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A Morte de Danton

  • ️Instituto Itaú Cultural

Histórico

Realizado na galeria do metrô da Glória, em construção, A Morte de Danton desafia público e crítica a vencer quatro horas de desconforto e dificuldade de entendimento.

Para falar do surgimento da burguesia, o diretor Aderbal Freire-Filho (1941) (Aderbal Júnior) cria uma linguagem experimental que substitui a comunicação da palavra pela expressão cênica. Na crítica ao espetáculo, o crítico Flávio Marinho aponta os aspectos que prejudicam a montagem: "... [o diretor] elabora um cansativo quebra-cabeças simbólico, de marcações aleatórias, dificultando, ainda mais, a compreensão de Danton - mesmo ao nível do enredo. A confusão fica formada de vez pela baixa qualidade acústica do Metrô - que impede uma perfeita audição - e, especificamente, por uma atriz que só fala alemão e francês. Numa obra tão engajada como Danton, tal alienação chega a ser imperdoável. Resultado: o espetáculo não comunica, torna-se antiteatral. [...] Por outro lado, Aderbal acertou ao conceber um espetáculo sem concessões, extremamente árido, de iluminação chapada: a moldura perfeita para qualquer revolução. Infelizmente porém o ocasional aproveitamento do espaço disponível não é suficiente para justificar a escolha do Metrô como palco deste drama histórico. Pois só em determinadas cenas de conjunto, a teatralmente generosa profundidade proporcionada pela galeria é explorada. O ponto alto de Danton fica, portanto, limitado aos minutos finais do espetáculo que adquire uma bela e solene atmosfera de procissão acompanhada a pé pelo público, ao som de uma 'Marselhesa' murmurada (e, na época, proibida) pelo elenco".1

Com A Morte de Danton, Aderbal Freire Filho, diretor teatralista, pretende levar o público de teatro, formado pela burguesia, a fazer uma reflexão sobre si mesmo, ao mesmo tempo em que procura responder ao movimento de "retorno à palavra", ligado ao teatro de resistência. No entanto, o fracasso interrompe a carreira do espetáculo e frustra o projeto de formação de um novo grupo.

Notas

1. MARINHO, Flávio. A tortura de Danton. Última Hora, Rio de Janeiro, 21 maio 1977.