O Cristo Pichado
- ️Giumbelli, Emerson
- ️Wed Oct 23 2013
Resumos
O texto analisa o episódio da pichação do monumento do Cristo Redentor, situado no Rio de Janeiro, ocorrido em 2010. Embora o caso tenha sido rapidamente resolvido, com a apresentação e retratação dos culpados, ele permite uma abordagem que revela a economia de sentidos em que circula o monumento. Outras situações envolvendo ataques ao Cristo Redentor são recuperadas para a demonstração do argumento. De acordo com este, a pichação não deixa de fazer o que outros usos e outras referências ao monumento operam: um comentário e uma intervenção sobre a cidade. Assim, a sacralidade desse objeto é melhor evidenciada pelas transgressões que nele e com ele se fazem.
The text analyzes the graffiti (pichação) episode of the Christ the Redeemer monument, located in Rio de Janeiro, which occurred in 2010. Although the case was quickly resolved with the presentation and retraction of the culprits, it allows an approach that reveals the economy of meanings in which the monument circulates. Other situations involving attacks on Christ the Redeemer are retrieved for the demonstration of the argument. According to this, the illegal painting does not stop doing what other uses and other references to the monument operate: a commentary and an intervention on the city. Thus, the sacredness of this object is best evidenced by the transgressions over its materiality.
Texto integral
Texto originado da conferência apresentada no evento Graduação em Campo – Seminários de Antropologia Urbana, USP, 12.11.2012. Agradeço aos colegas do NAU pelo convite para a conferência, sobretudo a José Guilherme Magnani. Registro ainda meu agradecimento a Izabella Bosisio, que atuou como bolsista de IC no período em que esteve vigente o projeto de pesquisa sobre o monumento ao Cristo Redentor, quando era graduanda em Ciências Sociais na UFRJ. Izabella, mais recentemente, repassou o material que compilou a propósito do episódio da pichação do monumento. Pude também ler seu trabalho acerca do mesmo episódio, preparado para uma das disciplinas do mestrado no PPGAS/UFRGS e ainda inédito.
- 1 Muitas fotos do episódio estão disponíveis na web e remeto o leitor a duas delas. O Cristo pichado (...)
1As luzes da manhã do dia 15 de abril de 2010 trouxeram à vista uma imagem inusitada: a estátua do Cristo Redentor, mundialmente conhecida, estava pichada. As inscrições espalhavam-se pelo rosto, braços e peito da escultura – e foram perpetradas graças (ironicamente) aos andaimes que a cercavam, lá postos para possibilitar mais uma das reformas pelo qual passava o monumento situado no Corcovado, um dos pontos mais altos da cidade do Rio de Janeiro. Não houve testemunhas e as câmaras do circuito de segurança estavam desligadas. Já há alguns dias, por conta das fortes chuvas que atingiram a cidade, com muitos prejuízos humanos e materiais, o monumento estava fechado aos visitantes. Nos jornais, o episódio suscitou uma condenação generalizada – vandalismo, covardia, estupidez, insanidade, desrespeito, anticidadania, incivilidade, foram epítetos proferidos por autoridades e leitores. Alguns empresários articularam-se para oferecer uma recompensa por informações que rendessem pistas sobre os autores da façanha. Denúncias anônimas e investigações policiais levaram a dois ou três nomes. Cerca de uma semana depois, um dia após o outro, dois homens se entregaram às autoridades. A rendição veio acompanhada de pedidos de desculpas. Embora tenham sido indiciados, os homens não foram presos e as notícias não deixam claro se iriam responder a processos criminais. Certo mesmo é que, no dia 30 de abril, puderam ser vistos, com macacões azuis, luvas, aventais e óculos especiais, na entrada de um dos túneis mais movimentados da cidade. Acompanhados inclusive do prefeito, estavam lá, ratificando seu arrependimento, para ajudar a limpar as paredes do túnel e suas imediações: o ato fazia parte do lançamento de mais um programa oficial antipichação.1
- 2 Vale lembrar que em 2007 o monumento do Cristo Redentor foi eleito, em votação aberta promovida po (...)
2Relatado dessa forma, o episódio da pichação do Cristo Redentor, aberto e encerrado em 15 dias, evoca uma análise que pode se inspirar no conceito de drama social proposto por Swartz, Turner & Tuden (1966). De acordo com esse conceito, devemos compreender processualmente os fenômenos do campo político, seguindo as fases que levam da ruptura da ordem à sua restauração, mais ou menos preservada a situação de partida. Em suma, um monumento foi atacado por pichações, ato que se enquadra na definição de uma ilicitude. A sociedade e as autoridades mobilizaram-se para chegar aos culpados, que reconheceram seu crime e declararam-se arrependidos. Moralmente, procuraram se redimir apagando as pichações de outros espaços públicos. A estátua do Cristo Redentor, aliás, foi restaurada rapidamente, graças ao trabalho de limpeza que retirou a tinta aplicada pelos pichadores. Dois dias depois do evento, a imagem tinha recuperado sua brancura característica. Desse modo, a chuva e a pichação representariam, homologamente, em escalas distintas, períodos de liminaridade dentro da vida cidade. Assim como a cidade se restabelecia dos estragos da chuva, recuperava a integridade de um de seus símbolos mais (re)conhecidos.2
3Contudo, as ideias que inspiram a elaboração deste texto seguem outras trilhas. Em sua colaboração para um conjunto de textos acerca de “termos críticos” para o estudo da religião, Michael Taussig (1997) sugere que, se aceitamos o lugar e a recorrência com que transgressões existem em fenômenos religiosos, então devemos aceitar também que são transgredidas “normas de intelecção profundamente arraigadas, segundo as quais fazer sentido equivale a fazer ordem” (p. 350). Talvez Taussig tenha exagerado na distância que procura tomar em relação às ideias de Lévi-Strauss, Douglas e do próprio Turner, autores aos quais dirige sua crítica. Embora concorde que a ideia de ordem tenha lugar axial para esses autores – como mostra o conceito de drama social exposto acima -, a insistência com que cada um deles, a seu modo, enfoca as anomalias pode encontrar alguma convergência com as provocações do antropólogo australiano. Seja como for, o que tentarei fazer, adiante, é perturbar a interpretação da pichação do Cristo como uma simples quebra da ordem. Procurarei demonstrar que a pichação pode ser entendida dentro de um jogo de encadeamentos, os quais caracterizam a própria existência do monumento alvejado e a sua relação com a cidade que o abriga. Para tanto, será necessário acrescentar alguns elementos à narrativa do episódio – alguns dos quais propositalmente obliterei, outros cuja evidência será preciso trazer à tona. Será também necessário que eu me refira a elaborações, conceitos e procedimentos que têm para mim um papel de orientadores analíticos.
- 3 Foram para mim inspiradores o livro de Levinson (1998) e as coletâneas de Walkowitz & Kanauer (200 (...)
4Começo pela ideia de monumento, que nos últimos anos tem recebido alguma atenção por parte de historiadores, estudiosos da arte e, ainda em menor grau, antropólogos. Memória e passado são, evidentemente, palavras-chave em investigações sobre o papel desses curiosos objetos na representação do tempo considerando situações específicas. Por sua vez, dimensões referidas ao espaço jogam igualmente papel fundamental na compreensão dos monumentos, quando se enfoca sua localização e sua relação com os espaços públicos, ou os percursos que lhes dão acesso. Ambos os eixos, além disso, abrem um canal de comunicação entre os monumentos e outras formas ou instituições que trabalham como o tempo e o espaço em suas construções sociais. É o caso dos museus e do que podemos chamar de arquitetura pública. Essas várias excursões analíticas em torno dos monumentos são impulsionadas pela constatação do caráter fortemente contestado que os caracteriza recentemente. O que fazer com os antigos monumentos, que contam histórias às quais falta a mesma plausibilidade que pareciam ter na época em foram erigidos? Como conceber e construir novos monumentos, sensíveis à polifonia das sociedades pluriculturais contemporâneas? Se as estátuas de Lênin podem figurar como ícone adequado para ilustrar a primeira pergunta, talvez a segunda remeta ao debate sobre os edifícios que estão vindo para ocupar o lugar das Torres Gêmeas do World Trade Center em Nova York...3
- 4 Duas referências, entre muitas outras possíveis, que captam a efervescência da antropologia em tor (...)
5Do ponto de vista da antropologia, o tema dos monumentos suscita a articulação de noções variadas, algumas clássicas, outras mais recentes. Entre as primeiras está a de cultura material, agora revitalizada por uma “antropologia dos objetos”. Entre as últimas está a das imagens, religada, com a ajuda da noção também recente de agência, à problemática clássica da magia e de suas operações.4 Assim relacionados, objetos e imagens tornam-se indissociáveis, e essa indissociabilidade tem impulsionado movimentações interessantes na antropologia contemporânea, conferindo-lhe criatividade analítica e efervescência teórica. Outro efeito das associações que podemos vislumbrar observando a problematização dos monumentos é a construção de vias transversais entre domínios mais estabelecidos da antropologia. Refiro-me às possibilidades de lançar pontes ou encontrar túneis entre a antropologia da religião, a antropologia urbana, a antropologia política, a antropologia da arte, etc. Não é aqui o espaço para sugerir um quadro preciso dessas possibilidades, mas não gostaria de perder a oportunidade para explicitar minha aposta. De todo modo, se trata de uma indicação sobre o modo como prefiro me situar, a partir das motivações que levam a insistir no esforço de compreensão de um monumento como o do Cristo Redentor.
6As referências a que tive acesso inspiram uma tentativa de abordar o Cristo Redentor como um monumento com certas características. A comparação com outros monumentos toma parte crucial nessa tentativa. Embora reconheça a importância desse procedimento, muito pouco dele será exercitado aqui. Mas se é o caso de insistir na bibliografia que existe sobre os monumentos, pode-se notar a ocorrência de um tema que adquire lugar central em minha análise do Cristo Redentor. Recorro a uma transcrição a fim de evocar imediatamente esse tema:
7“Monumentos são mortais. De fato, um monumento frequentemente se torna tão poderosamente simbólico que suscita em alguém um interesse disfarçado em destruí-lo. Esse potencial para destruição ou desfiguração pode ser o aspecto mais significativo da existência do monumento enquanto um objeto. Consequentemente, quando o discurso monumental torna-se iconoclástico, ele engaja a objetividade do monumento em seu fulcro. (...) Ameaças de destruição ou alteração de monumentos, paródias destrutivas e destruições consumadas são todas integrais aos discursos monumentais e memoriais, assim como o são os próprios signos da destruição” (Nelson e Olin, 2003, p. 205).
- 5 O leitor reconhecerá a influência das sugestões de Latour (2008).
8O foco deste texto, como já sabemos, é um episódio que pode ser considerado como iconoclástico e que envolve certa forma de destruição de um monumento. Ao final, espero não termos tanta certeza sobre isso. De todo modo, em se tratando do Cristo Redentor, convém começar por aspectos que expressam sua presença e permanência. Pode-se mesmo dizer que em torno dele há uma iconofilia.5
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- 6 Nesse aspecto, pode-se contrastá-lo com o monumento a Ramos de Azevedo, em São Paulo, analisado po (...)
10Retomo então a pergunta: como caracterizar o Cristo Redentor como um monumento? Deve-se afirmar, em primeiro lugar, que essa condição é reclamada por ele – ou melhor, por aqueles que o conceberam, o construíram e depois passaram-lhe a cuidar. Isso, no entanto, não nos poupa nenhum trabalho. Uma maneira de fazê-lo é tratar de uma série de tensões ou conciliações que esse monumento realiza. O monumento ao Cristo Redentor é uma construção relativamente recente. Data dos anos 1920, tendo sido inaugurado em 1931, quando o Rio de Janeiro era a capital de uma nascente república. Sua juventude fica bem estabelecida quando o cotejamos aos demais eleitos para figurarem na lista das “novas maravilhas do mundo”: Muralha da China, Petra, Coliseu romano, Pirâmide de Chichén Itzá, Machu Pichu e Taj Mahal. O Cristo Redentor é a única obra do século XX. Isso, por outro lado, não significa que não tenham ocorrido transformações em sua curta história. Mais adiante, falarei da pretensão religiosa, que passa por oscilações ao longo desse tempo. Mas é verdade que, na dimensão material, foram poucas as modificações. Elas ocorreram nos acessos e na iluminação, por exemplo. Várias reformas foram executadas a fim de providenciar limpezas, reparos e melhoramentos na escultura. Recentemente, a capela que fica abrigada sob o pedestal foi renovada. No entanto, pouco mudou no aspecto geral do monumento. Sobretudo: ele nunca foi movimentado de sua locação original.6
- 7 Ver os textos e imagens reunidos no livro de Kaz & Loddi (2008).
11Talvez essa estabilidade ajude a entender uma impressão recorrente: a de que a imagem do Cristo Redentor é indissociável daquela do Corcovado, como se este fosse seu verdadeiro pedestal. Muitos relatos e depoimentos concordam com essa visão. Sua construção pode ser acompanhada pela comparação entre vários registros sobre os monumentos da cidade do Rio de Janeiro, como já foi notado em outro trabalho redigido em colaboração (GIUMBELLI & BOSISIO, 2010). Os primeiros livros, dos anos 1940 e 50, preferem focar no personagem ou na obra, enquanto que publicações mais recentes deslocam sua atenção para a integração entre o monumento e a paisagem. Essa paisagem é a um só tempo natural e social, pois estamos a falar das linhas com que uma cidade específica é descrita e reconhecida. O fato é que, para muitos dos que habitam nessa cidade, o Cristo Redentor é um ponto para ser visto, ou a partir do qual alguém se situa dentro do espaço urbano. Ou seja, não é necessário visitá-lo, algo que para o turista se torna praticamente uma obrigação. Mas, mesmo aqueles que vão até o monumento, não podem tocá-lo. Ao contrário, por exemplo, da Estátua da Liberdade, que permite que seus visitantes abriguem-se no seu interior, não se pode penetrar no Cristo Redentor. O olhar do visitante oscila entre a estátua e a paisagem, pois novamente é a cidade que se torna um protagonista da situação encetada pelo monumento.7
12A manutenção e administração do monumento é compartilhada. A rigor, seria praticamente impossível mencionar todos os atores desse empreendimento, uma vez que alguns atuam apenas em situações ou eventos específicos, e no entanto ainda relevantes para a promoção da imagem. Mesmo se nos mantemos no plano dos agentes permanentemente envolvidos, a lista está longe de ser sumária. A Arquidiocese da Cidade do Rio de Janeiro reivindica a propriedade do monumento, criando ao longo do tempo entidades específicas para cuidar da sua administração. O local, no entanto, nunca foi propriedade privada. Na configuração atual, o que não quer dizer recente, faz parte do Parque Nacional da Tijuca, administrado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), uma entidade federal. Mas a Prefeitura intervém na administração do acesso ao monumento, que por sua vez envolve agentes privados, como a empresa a que pertence o trem que leva os visitantes ou os prestadores de serviço que propiciam o transporte rodoviário. Junto ao monumento, há várias lojas, que comercializam uma multidão de souvenirs e vendem lanches, bebidas, etc. É preciso não deixar de mencionar ainda, ao menos, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), uma vez que desde 2006 o monumento é tombado como patrimônio nacional. Isso explica porque representantes do IPHAN tiveram que intervir para ajudar na limpeza das pichações em 2010.
13Por fim, ou talvez fosse mais adequado começar por isso: o Cristo Redentor é uma imagem religiosa. Na verdade, a formulação mais pertinente seria: a religião é uma dimensão possível dessa imagem, podendo se tornar central, mas podendo também ser encoberta por outras. No limite, a referência à cruz, que foi fundamental para determinar a forma da imagem, pode se transformar nos “braços abertos” nos quais se encarna alguma figura hospitaleira. Em outros textos (GIUMBELLI, 2008, 2011, 2012), procurei caracterizar mais precisamente a passagem de símbolo religioso a ícone urbano, pela qual atravessa o monumento do Cristo Redentor. As referências religiosas originais estavam claramente declaradas em uma inscrição sobre o pedestal que, profeticamente, não foi realizada: “o Cristo impera, o Cristo vence, o Cristo reina”. A ausência dessa “legenda” facilitou que a imagem sofresse muitas releituras, sendo a associação com a cidade, eventualmente estendida ao país, o seu resultado mais evidente. Ao mesmo tempo, sobretudo nos últimos anos, a Igreja Católica vem procurando “recuperar” a autoridade sobre o monumento, transformando-o oficialmente em “santuário” e investindo em estruturas, produções simbólicas e eventos que pretendem qualificar a dimensão religiosa da imagem. Mesmo do ponto de vista das autoridades e discursos seculares, essa dimensão religiosa é reconhecida e destacada, argumento que um texto já citado (GIUMBELLI & BOSISIO, 2010) procura demonstrar analisando tanto os livros sobre monumentos cariocas quanto algumas ocorrências que cercaram a eleição do Cristo Redentor entre as “novas maravilhas do mundo”.
- 8 Ver http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1040620-londres-pode-ter-replica-de-cristo-redentor-apos- (...)
- 9 Ver http://www.cristo80anos.com/exposicao.html, acesso em 26.04.2013.
14A propósito das tensões e conciliações entre público e privado, secular e religioso, vale mencionar dois episódios recentes, capítulos novíssimos da trajetória do Cristo Redentor. Nos primeiros meses de 2012, circulou na internet a notícia de que a Embratur cultivava o projeto de instalar uma réplica temporária de 40 metros da estátua do Cristo Redentor no topo de uma colina com vista panorâmica para a cidade de Londres. O projeto seria parte de um pacote de atividades promocionais destinadas a divulgar a Olimpíada do Rio em 2016 na cidade-sede dos Jogos de 2012. A notícia menciona ainda as resistências de moradores da localidade, sem referências a questões religiosas, mas temendo apropriações privadas de um espaço comunitário.8 Seja já por quais razões, sabemos que o projeto não se realizou. Curiosamente, na mesma época em que ocorriam os Jogos Olímpicos em Londres, uma outra réplica do Cristo Redentor, mas de tamanho bem menor (cerca de 4 metros), podia ser encontrada em uma das entradas frontais da igreja de Notre Dâme de Paris. Se em outra oportunidade, a presença do Cristo Redentor em Paris vinha associada com brasilidade (ver GIUMBELLI, 2011), dessa vez ela servia para promover a realização da Jornada Mundial da Juventude, evento católico que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2013. Mesmo assim, no pedestal da réplica podem ser vistas as logomarcas de algumas empresas privadas e dos governos federal (brasileiro), estadual (fluminense) e municipal (carioca).9
- 10 Cf. http://www.cristo80anos.com/exposicao.html, acesso em 26.04.2013.
- 11 Notícia de 19.04.2010, cf. http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm, acesso em (...)
15Portanto, caracterizar como exclusivamente religiosa essa última aparição do Cristo Redentor seria desconsiderar outras dimensões que a acompanham – e mesmo a sustentam, se pensarmos em recursos financeiros provavelmente empenhados. A passagem da réplica do monumento por Paris integra uma exposição, intitulada “Cristo Redentor para Todos”, motivada pela comemoração dos 80 anos da sua inauguração. Em outubro de 2011, uma série de eventos esteve associada com essa comemoração, como pode ser evidenciado pela consulta ao seu site oficial. No dia 12 de outubro, ocorreram uma missa, uma corrida pedestre, uma apresentação de aviões e um show com atrações musicais – este anunciado como a “maior manifestação de paz do planeta”. O registro desse show foi depois transformado em gravações de CD e DVD e está disponível para comercialização, juntamente com outros produtos com a marca “80 anos”. Já a exposição “Cristo Redentor para Todos” vem com a proposta de ser itinerante, levando consigo a réplica já mencionada. Sobre ela, o site nos informa: “As réplicas do Cristo Redentor do Corcovado serão doadas a cada uma das cidades visitadas e lá permanecerão como um símbolo de paz. A eleita sétima Maravilha do Mundo Moderno não é só do Brasil, mas, sim, de todos os povos, e abençoará esses locais, assim como o faz na Cidade Maravilhosa.”10 Notemos como referências religiosas e não necessariamente religiosas se misturam. Um dos personagens destacados no site oficial das comemorações é o Padre Omar Raposo, que tem o cargo de Reitor do Santuário Cristo Redentor do Corcovado, mas também autor de um livro e de um CD de músicas que fazem parte dos produtos associados à comemoração. Logo após o episódio da pichação, o jornal da Arquidiocese da Cidade do Rio de Janeiro registrou os lamentos do Pe. Omar: “Num momento em que a Cidade está tão fragilizada, por causa das vítimas das chuvas, alguém se propõe a uma ação tão insensível, diante de um símbolo de esperança e solidariedade, que é o Cristo Redentor”. O sacerdote ainda agradecia as manifestações de apoio de autoridades e pessoas da sociedade civil e afirmava sua confiança na capacidade da Polícia para resolver o crime.11
- 12 Cf. reportagem da revista evangélica Ultimato sobre as reações protestantes nos anos 1920, http:// (...)
16O crime, como sabemos, seria rapidamente resolvido. Mas com a decisiva contribuição de evangélicos... Os jornais noticiaram que os dois suspeitos se apresentaram às autoridades policiais encaminhadas e acompanhadas por um pastor evangélico, Marcos Pereira da Silva, líder da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias. O pastor foi visto ao lado de outro evangélico, apresentado como ex-pagodeiro e atualmente cantor gospel e então candidato ao posto de senador como representante do Rio de Janeiro. A situação tem algo de irônico: o primeiro dos suspeitos pela pichação a se entregar o fez declarando ser católico, mas foi aconselhado pela assessoria jurídica de uma igreja evangélica. Sinais dos tempos? A reparação do Cristo católico dependeu da intervenção de protagonistas evangélicos. Seja como for, é possível apontar um contraste entre o presente e o passado. Refiro-me ao momento da construção do monumento, na década de 1920, quando lideranças batistas, presbiterianas, metodistas e congregacionais protestaram por vários canais. O ápice do protesto ocorreu em 1923, por ocasião de campanha de arrecadação e concessão de recursos públicos municipais para a construção do monumento. Essas lideranças evangélicas fizeram suas críticas recorrendo a princípios jurídicos associados à separação constitucional entre Estado e religião e também a argumentos bíblicos. Preferiam usar os termos “imagem” e “santuário” ao invés de “monumento”, “adoração” ao invés de “homenagem”. Em um pronunciamento, esclareciam que Cristo não precisava de uma estátua e que aquela que iria se construir seria “um monstrengo a que blasfemamente [iriam] dar o seu nome”. Em documento apresentado como resultado de um congresso, uma das resoluções incentivava os fiéis a orarem pela liberdade de consciência e para que Deus confundisse os planos dos adversários.12
- 13 http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/303/rio-de-janeiro-1923-a-forte-reacao-protestante-ao-c (...)
17É verdade que se trata de circunstâncias distintas: opor-se à construção do monumento no passado e encaminhar pessoas que atentaram contra a estátua no presente. Mas se deve lembrar que essa distinção não é preservada pelas pessoas que se sentem autorizadas a atacar ou destruir imagens religiosas, como demonstram casos envolvendo as religiões afro-brasileiras. Já em relação ao Cristo Redentor, há fatos que indicam sua apropriação positiva entre agentes evangélicos. A própria revista que recupera os protestos da década de 1920 expressa opinião distinta de seus correligionários: “As autoridades católicas da época acertaram em cheio dando ao monumento o nome de Cristo Redentor, a verdade mais preciosa e eternecedora do cristianismo, pois é só em Jesus que nós ‘temos a redenção, a saber, o perdão de pecados’ (Cl 1.14; Ef 1.7)”.13 Com efeito, o ícone do Cristo Redentor pode hoje ser encontrado em associação com referências evangélicas, do mesmo modo como se pode constatar sua apropriação no universo afro-brasileiro. Na umbanda, imagens semelhantes àquelas que, entre outras, inspiraram o monumento ao Cristo Redentor, são cultuadas como representações de Oxalá (GIUMBELLI, 2011). Nesse sentido, o catolicismo saiu vencedor, na medida em que a imagem entronizada no monumento foi aceita por outras religiões, embora se deva sublinhar também a ocorrência de ressemantizações e derivas nessa aceitação.
18O que me interessa sublinhar, no entanto, quanto à participação do pastor Marcos, é o fato de se tratar de pessoa conhecida para além do circuito evangélico ou religioso. Desde 2004, ficaram amplamente conhecidas, através da mídia, suas intervenções em rebeliões em presídios fluminenses, ajudando a controlá-las. Há ainda registros de ações descritas como “resgates” de pessoas aprisionadas por traficantes e de cultos evangélicos encenados em meio a “bailes funk” em favelas cariocas. O pastor construiu uma imagem em torno da “recuperação de bandidos” e sua igreja mantém uma instituição voltada para a ressocialização de dependentes químicos (BIRMAN & MACHADO, 2012). Em agosto de 2012, foi condecorado como cidadão emérito pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No entanto, alguns meses antes, o mesmo pastor Marcos foi alvo de denúncias graves, que colocam em questão sua imagem positiva. As denúncias articulam uma série de temas: ameaças de morte, crimes sexuais e conluio com criminosos. As tribulações que acometem o pastor Marcos adquirem sentido mais amplo se as associamos com uma transformação que recai sobre os evangélicos. Sua atuação em favelas ou presídios, por exemplo, vinha acompanhada de representações que traçavam linhas claras entre os convertidos e os não convertidos. Era preciso escolher entre a criminalidade e a religião. No entanto, acumulam-se as indicações que essas opções conseguem conviver. Embora continue a vigorar a condenação evangélica ao crime, aqueles que insistem em viver “do lado errado” compartilham vocabulários e recursos religiosos (VITAL, 2009). A batalha espiritual entre bem e mal ficou mais confusa.
19Em suma, a intervenção do pastor Marcos Pereira permite a elaboração de alguns contrastes. Primeiro, o contraste entre passado e presente considerando o próprio universo evangélico. Reiterando o que foi demonstrado acima: antigamente, os evangélicos – aqueles que se pronunciaram publicamente, ao menos – bradaram suas diferenças com os católicos, valendo-se de motivações religiosas para laicamente se opor à existência de uma estátua que pretendia homenagear Jesus Cristo; atualmente, os evangélicos, inclusive os pentecostais, não demonstram o incômodo com a imagem entronizada no monumento, encontrando maneiras de conviver com ela. O segundo contraste envolve os evangélicos e a Igreja Católica, no modo como mobilizam o significante da “paz”. Vimos como a Igreja Católica é capaz de fazer acompanhar a imagem do Cristo Redentor com o ideal da paz, inclusive quando a imagem se movimenta para atingir diversos lugares no mundo. Já os evangélicos consideram a paz como produto de uma pacificação; e a pacificação depende – e nisso compartilham de uma visão que orienta políticas públicas em uma cidade como o Rio de Janeiro – de uma batalha constante (BIRMAN, 2012). Os pastores e fieis evangélicos envolvem-se assim em um corpo a corpo diário com as forças que consideram maléficas. E envolvem-se de tal maneira que sua presença acaba transformada por procedimentos que evocam não tanto a distinção clara entre bem e mal quanto as marcas da ambiguidade.
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- 14 Seria preciso levar adiante uma afirmação a que o próprio Durkheim não atribui muita importância q (...)
21O tema da ambigüidade, que acaba de surgir para indicar a ação de agentes religiosos, é um ponto recorrente na caracterização da noção de sagrado. Não é aqui o espaço para traçar a genealogia dessa caracterização, bastando mencionar que ela aparece em trabalhos de R. Smith, Mauss e Hubert, Durkheim, Freud, Caillois, Bataille e Leiris, bem como em Leach e Douglas. Prefiro dar ênfase à discussão proposta por Taussig (1999) na sua tentativa de apreender o sagrado por meio do que chama de “trabalho do negativo”. Taussig (1997) retoma um aspecto crucial da definição durkheimiana, ou seja, a proibição como indício da presença do sagrado. Mas o antropólogo australiano nos provoca a prolongar essa definição pelo recurso à ideia de transgressão. Ele ilustra seu argumento com rituais de iniciação durante os quais são suspensas proibições que têm vigência ordinária.14 O sagrado, portanto, precisa ser compreendido nessa lógica dinâmica da negação da negação, ou da transgressão da proibição. No caso de sociedades secularizadas, prossegue Taussig, é possível encontrar os indícios do sagrado fora da religião. Sua sugestão – que adquire as feições de artifício metodológico – é de que fiquemos atentos a episódios que envolvem alguma forma de ataque a objetos, sucedida por reações significativas e reveladoras (TAUSSIG, 1999). Problematizar esses ataques e acompanhar as reações que suscitam seria o modo de perceber o trabalho do negativo. Tão importante quanto localizar as proteções que recaem sobre esses objetos é entender suas transgressões. Tendo como referência o corpo humano e o lugar proeminente que atribuímos à cabeça, Taussig sugere que utilizemos a noção de desfiguração. O que acontece quando algo é desfigurado, pergunta ele. Seus exemplos incluem, além do corpo humano, bandeiras e moedas nacionais, obras de arte e monumentos públicos.
- 15 Depoimento no artigo de Roberto Kaz para a Revista de História da Biblioteca Nacional, janeiro de (...)
22Isso nos permite retomar o episódio do Cristo Redentor, tendo agora a preocupação de nos deter sobre o modo do ataque. A pichação é algo que está intimamente associada aos monumentos. De tal maneira, para usar de uma formulação que se aproveita das provocações lançadas por Taussig, que a própria condição de “monumento” pode ser atestada pela “homenagem” prestada por uma pichação. Muitos monumentos parecem abandonados à indiferença, sobretudo quando já deixaram de ser objeto de celebrações que visam relembrar os motivos que os trouxeram à existência. Mas se eles forem pichados, descobrimos que existem leis ambientais que os protegem, como foi noticiado no caso do Cristo Redentor. O historiador Paulo Knauss estabelece uma distinção interessante ao comparar o grafite e a pichação: “A pichação se instala onde a cidade é bonita, arrumada. Ao contrário do grafite, que tende a buscar lugares desprezados. Isto faz parte de uma lógica de abordar e provocar a cidade. Picha-se o que é bonito e se grafita o que é feio. Assim, essas duas formas de expressão exercitam suas críticas urbanas e denunciam a lógica da cidade”.15 A pichação, portanto, para quem a observa com fins analíticos, é uma forma de leitura da cidade. Quanto mais protegido o lugar, maior a atração em pichá-lo. Não é preciso nenhuma mensagem, bastando a assinatura com que os pichadores se identificam e se reconhecem. Acrescentaria, nessa chave, que a permanência de uma pichação é um indicativo da importância que se atribui a um monumento. A pichação tanto pode contribuir para enfeiar o que deveria ser bonito, quanto pode suscitar uma reprovação e uma reparação.
- 16 Notícias nos jornais O Globo e Extra, entre 15.04.2010 e 25.04.2010, localizadas por meio do Arqui (...)
- 17 O mesmo jogo entre ocultação e revelação é percebido por uma das muitas pessoas que manifestam seu (...)
23O episódio do Cristo Redentor encaixa-se no segundo caso, observando-se as reprovações generalizadas e as reparações imediatas. Mas há algumas circunstâncias a considerar. Primeiro, insistamos no enquadramento da ação como uma típica pichação – na verdade, uma pichação suprema. Foi seguindo essa hipótese que a investigação policial procedeu. Os jornais16 informam que policiais se infiltraram em reuniões de pichadores. Nelas ouviram elogios ao ato perpretado por dois companheiros, tido como verdadeira proeza: alcançar a face da estátua do Cristo Redentor. Afinal, atingiram um dos objetos mais protegidos e inacessíveis entre o conjunto de monumentos cariocas. Ao mesmo tempo, os policiais puderam, nas reuniões que frequentaram, reconhecer as assinaturas de pichadores, cotejando as inscrições deixadas na estátua com aquelas encontradas em outros registros. Esse jogo entre ocultamento e revelação (TAUSSIG 1997) remete também a um episódio anterior envolvendo o mesmo monumento. Em 1991, outra dupla de pichadores inscreveu suas marcas no Cristo Redentor, embora não tenham atingido a estátua, mas apenas os muros que a cercam. Deixaram – e isso pode ser entendido em modo passivo ou ativo – cair um bilhete de passagem rodoviária relativo ao trecho São Paulo-Rio de Janeiro. Foram presos na estação rodoviária quando voltaram à cidade de origem. Portanto, ser reconhecido é algo inerente à atividade de pichação, o que leva a uma necessidade de administração que procura equilibrar ocultação e revelação.17
24Esse enquadramento do ato como uma pichação contempla ainda a identificação das “gangues” a que pertenceriam os dois autores e a atribuição de outras ações, já em investigação, nesse caso envolvendo inscrições em túmulos de personalidades públicas em um dos mais prestigiados cemitérios cariocas. Associadas à pichação da estátua do Cristo, as ocorrências em um cemitério permitiam a caracterização dos pichadores como autores de sacrilégios. Mas houve circunstâncias que se contrapuseram a essa configuração. Como já foi notado, o primeiro dos suspeitos entregou-se declarando ser católico; além disso, ambos negaram pertencer a grupos de pichadores. Sobretudo, sustentaram que seu ato foi um protesto. Esse ponto, ao contrário dos anteriores, esteve presente desde o início do episódio. As primeiras notícias observaram que as inscrições feitas sobre a estátua faziam referência a dois ou três casos de pessoas desaparecidas, ou seja, casos não resolvidos pela polícia e sobre os quais havia suspeitas acerca do envolvimento de policiais. Havia também o slogan “Reage Rio”, usado em mobilizações contra a violência na cidade. Novamente, portanto, surge o tema da paz, associado ao monumento por linhas tortas. Além disso, a defesa utilizada pelos pichadores – embora ela não tenha adquirido valor de atenuante, a julgar pelas manifestações de condenação – inscreve na pichação uma mensagem, elemento prescindível nesse gênero de manifestação. Em outras palavras: a desfiguração impingida à estátua recorreu a referências que integram o acervo de referências associado ordinariamente à imagem do Cristo Redentor.
- 18 Cf. http://observatoriomidiaesportiva.blogspot.com.br/2009/10/patrimonio-ou-simbolo.html, acesso e (...)
- 19 www.mp.rj.gov.br, acesso em 05.08.2009.
25Neste ponto, é oportuno que se mencione outro episódio relacionado ao monumento em discussão. Ele foi denunciado como um ataque ao Cristo Redentor, mas veremos que, nesse caso, a reação fez parte de uma disputa mais específica. Durante o ano de 2009, estava em curso a campanha pela eleição do Rio de Janeiro como sede das olimpíadas de 2016. Nesse contexto, circulou, na internet, uma montagem, na qual a imagem do Cristo Redentor aparece vestida com um colete à prova de balas; suas mãos deixam de mostrar as chagas e passam a segurar um revolver e um fuzil; uma caixa de diálogo mostra a frase escrita em inglês: “Filho, defenda-se. Escolha sua arma”. O autor do blog a partir do qual a montagem foi difundida era contrário à escolha do Rio de Janeiro como sede da olimpíada. De acordo com um registro sobre o caso disponível na internet: “O alto custo do evento, estimado em R$ 25 bilhões, as carências na infraestrutura do Rio em áreas como transporte e habitação, a falta de políticas públicas para o esporte e o temor de que os investimentos não se revertam em benefícios para a população são alguns dos problemas apontados por ele”.18 O autor do blog foi processado criminalmente a partir de denúncia do Ministério Público fluminense, com base no artigo do Código Penal que tipifica o vilipêndio a objeto religioso. Vejamos um trecho da fundamentação preparada pelo procurador que encaminhou a ação: “Ocorre que entre todas as imagens que identificam a cidade do Rio de Janeiro, o denunciado escolheu, em clara ofensa às instituições religiosas e às pessoas que professam esta fé, a do Cristo Redentor, símbolo religioso das igrejas cristãs que retrata o amor e o perdão”.19
- 20 Para o texto integral do pedido de suspensão da ação, ver http://s.conjur.com.br/dl/habeas-corpus- (...)
- 21 O Globo, 03/10/2009, cf. Giumbelli & Bosisio (2010).
26Os advogados do acusado recorreram à Justiça, sustentando que "a imagem considerada ofensiva está disponível na Internet e é semelhante a dezenas de outras que circulam pela rede de computadores". Segundo os mesmos advogados, todas essas imagens são uma crítica à violência no Rio e não têm nenhuma conotação religiosa. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concordou com os argumentos do acusado e impediu que a ação contra ele fosse adiante. A reação do autor do blog denunciado traz ainda à tona o que seriam motivações mais específicas para o episódio. A iniciativa do Ministério Público teria sido provocada por lamentações do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB); já o acusado era membro do mesmo comitê até 2008; as críticas no contexto da campanha pela eleição do Rio á sede olímpica eram parte de desavenças mais amplas envolvendo a condução da entidade. Aliás, parece que a primeira manifestação veiculando a montagem com o Cristo Redentor ocorreu por meio de uma mensagem eletrônica enviada aos membros do COB.20 É interessante perceber que a imagem do Cristo irá reaparecer, no mesmo quadro, na ocasião da divulgação do resultado da escolha da sede olímpica de 2016. Nesse dia, foi preparada uma festividade na praia de Copacabana, que atraiu milhares de pessoas. Assim que a notícia da vitória na eleição foi divulgada, uma gigantesca bandeira foi desfraldada sobre a multidão, cobrindo a areia da praia; nela estava a efígie do Cristo Redentor.21
27O caso do Cristo armado merece alguns comentários – eles permitem deixar mais claro o uso que se faz da imagem entronizada no monumento. Em primeiro lugar, nota-se outra disputa acerca do estatuto dessa imagem: ela deve ser considerada como “religiosa”? A denúncia do Ministério Público apostou nessa direção, mas não teve sucesso. Isso não impede que em outras situações, envolvendo outros atores, o estatuto religioso seja reconhecido. Entrando ou não em consideração a dimensão religiosa, o episódio mostra – e este é o segundo comentário – a relação entre a imagem do Cristo Redentor e a cidade que o abriga. A montagem com as armas fazia a imagem, desfigurada, falar sobre a cidade. Já o evento na praia de Copacabana trazia a imagem como representação da cidade. Também em outro momento, envolvendo a campanha pela eleição do monumento entre as “novas maravilhas do mundo”, o foco principal da discussão foi a cidade (GIUMBELLI & BOSISIO, 2010). Um terceiro e último ponto tem a ver com a conotação moral manifesta na denúncia ao Cristo armado, quando esta menciona a categoria “ofensa”. No episódio da pichação, segundo notícias, o inquérito instaurado contra os dois acusados os enquadrava no crime de “injúria por discriminação”. Se a dimensão moral fica evidente nessas formulações, persiste uma incerteza quanto à vítima dos ataques. Quem ou o que as pichações atacaram: um monumento público, a figura religiosa nele retratada, os familiares das pessoas de cujo desaparecimento as inscrições lembravam, os policiais suspeitos por esses desaparecimentos, todos que por distintas razões estimam a imagem, a própria cidade nela representada?
- 22 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u698222.shtml, acesso em 26.04.2013.
- 23 http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1164155-cristo-redentor-e-destruido-em-nova-animacao-nacion (...)
- 24 http://www.thepoke.co.uk/2011/06/03/banksy-hits-rio/, acessado em 26.04.2013.
28A montagem que equipa o Cristo com colete e armas – e a discussão sobre sua legitimidade – atrai nossa atenção para outros ataques à imagem. No filme catástrofe 2012, entre as várias cenas de destruição causadas por cataclismas naturais está o arruinamento do monumento ao Cristo Redentor, derrubado por um tsunami. A imagem ilustra um dos cartazes promocionais do filme, lançado em 2009, e foi objeto de protestos por parte da Arquidiocese da Cidade do Rio de Janeiro.22 A imagem do Cristo Redentor em ruínas, sem um dos braços, com pichações em seu ombro, faz parte de uma produção nacional, estreiada em 2013 - Uma História de Amor e Fúria, animação escrita e dirigida por Luiz Bolognesi.23 Fantasias envolvendo a desaparição do monumento podem também ser encontradas em ficções literárias. Um exemplo, o título sendo suficiente para percebermos, é o livro de Carlos Eduardo Novaes, Redemptoris – A Saga do Cristo Desaparecido, de 2011. Outro é o livro de Moacyr Scliar, Eu Vos Abraço, Milhões, de 2010. Na capa, o monumento aparece em uma das fotos da sua construção, época em que se passa a ficção; na trama, ele é objeto do plano de um coletivo anarquista visando a sua explosão. Para finalizar o rol de ilustrações – longe de pretenderem ser exaustivas – voltemos ao terreno que nos ocupa. Em junho de 2011, circulou uma foto que retratava uma suposta ação de Banksy, cujas obras de grafitagem de conotações políticas são amplamente conhecidas. Na foto, a imagem do Cristo Redentor, vista em seu lócus atual, aparece com traços que remetem a Osama Bin Laden; no peito da estátua, duas marcas de tiros, lembrando de seu recente assassinato por militares estadunidenses em situação pouco esclarecida. A montagem foi difundida por um site inglês de humor, dedicado a tais tipos de manipulação, mas, a julgar pelos registros de sua divulgação, houve hesitação tanto sobre a autoria da ação quanto sobre a falsidade da imagem.24
29*
- 25 Noticiados, respectivamente, em O Globo, 10/08/2009 e 29/06/2009.
30Creio ser possível agora definir mais explicitamente o argumento com o qual abordo a pichação da estátua do Cristo Redentor. Compreendida com a ajuda da ideia de desfiguração, a pichação pode ser considerada como uma transgressão que revela a lógica em que circula o monumento; em outros termos, como o limite para o qual tende a economia da sua utilização, utilização entendida como a forma mesma da sua existência. Refiro-me às muitas situações nas quais a imagem do Cristo serve de tela ou nas quais o local do monumento serve de palco para manifestações variadas. Dois exemplos, que podem sugerir conotações contrastantes. Em agosto de 2009, uma iluminação especial tingiu de vermelho o peito da estátua; tratava-se de uma homenagem por ocasião do Dia dos Pais; uma “cerimônia de bênção” ocorreu aos pés do monumento. Menos de dois meses antes, uma manifestação ocupou os arredores do pedestal, com faixas que foram fotografadas como se fossem legendas do monumento; nesse caso, tratava-se de uma mobilização em apoio ao projeto de lei que criminaliza a homofobia, no Dia do Orgulho LGBT.25 De maneira semelhante, podemos entender as charges que se utilizam da imagem do Cristo Redentor para tecer comentários variados, mas tendo geralmente como tema a cidade do Rio de Janeiro. A violência é um tópico recorrente, como naquelas que mostram o Cristo atingido ou ameaçado por saraivadas de projéteis, em referência às balas perdidas e a outras situações que envolvem a presença e o uso de armas na cidade. Ou seja, assim como a imagem do Cristo pode ser levada para a praia para fazer parte de uma comemoração, ela pode ser mobilizada por uma charge que lamenta os problemas e sinas da cidade.
31A pichação do Cristo, verdadeira façanha dessa cacografia urbana, pode ser assim inserida no conjunto de interferências que, por meio de uma enorme corrente de imagens, lhe conferem sentido, sobretudo na relação que se tece entre o monumento e a cidade. Dentre as muitas cartas que foram publicadas pelos jornais, expressando as reações à pichação, destaco uma delas. O leitor que expressa sua opinião prefere tomar o episódio como uma espécie de comentário sobre a cidade e sua administração, como se a pichação fosse um modo de revelar a realidade negativa:
Perfeita a foto do Cristo Redentor pichado. Agora, sim, símbolo da nossa Cidade Maravilhosa. Símbolo do desleixo, desrespeito, descaso, da ausência de ordem pública. Sugiro que deixem como está: com obras inacabadas, abandonado, inacessível para nós, mas facilmente invadido pelos fora da lei que, livremente, preenchem os espaços onde o Estado está ausente. (O Globo, 17.04.10)
- 26 A relação necessária entre centros e margens, considerada a partir do Estado, é um tema que poderi (...)
32A ideia de criminosos preenchendo um espaço do qual o Estado está ausente é sugestiva: a superfície maciça do Cristo desfigura-se em um vazio que representa a “ausência de ordem pública”; um vazio que é revelado pelas inscrições de tinta, cujo sentido desvincula-se assim do conteúdo das mensagens nelas carregadas. A sugestão de que se deixe “como está” provavelmente não se aplica às pichações, e sim às parafernálias necessárias à restauração e aos bloqueios que impediam o acesso ao monumento. Como sabemos, as pichações foram removidas com muita rapidez. Faz sentido: primeiro, evidentemente, porque era preciso restabelecer prontamente a pureza do objeto sagrado; mas, também, se o argumento que defendo está correto, para liberar o monumento para novas interferências. Não se pode conviver com um Cristo pichado, mas tampouco esse objeto poderia sobreviver sem as transgressões atenuadas que o atingem ordinariamente.26
33*
- 27 Minhas fontes para os comentários acerca da obra foram Freeland (2001) e o verbete da Wikipedia: h (...)
34Para concluir, remeto a outra imagem de Cristo. Piss Christ é uma obra do artista Andres Serrano, executada em 1987 e exibida pela primeira vez nos Estados Unidos em 1989. Trata-se da foto de um crucifixo. O título da obra indica ao observador que para compor a imagem o objeto foi mergulhado em uma caixa de urina do próprio artista. A exibição de Piss Christ nos Estados Unidos levantou protestos que apontaram suas intenções blasfematórias, isso no quadro de uma série de reações a artistas e obras que visavam denunciar a utilização indevida de recursos públicos, ou simplesmente recusar seu estatuto de peças artísticas. Houve pelo menos dois episódios em que as críticas adquiriram a feição de ataques físicos, na Austrália em 1997 e na França em 2011. De outro lado, Piss Christ arregimentou defensores, que procuraram mostrar as qualidades artísticas da obra e se indignaram contra o assédio às instituições que protegem e exibem as obras de arte. O próprio Andres Serrano emitiu declarações que tentaram destituir sua peça de intenções blasfematórias; segundo ele, a imagem poderia ser interpretada como uma crítica à banalização de ícones religiosos em uma sociedade mercantilizada. E a polêmica continua...27
35Penso que uma leitura antropológica de uma polêmica como essa, seguindo os argumentos que me inspiram neste texto, deveria conseguir refletir conjuntamente sobre os ataques e as defesas registradas. Certamente não para chegar a alguma posição intermediária, inclusive porque muitas vezes se constata que “ataques” e “defesas” são posições insuficientes para dar conta dos argumentos e planos que constituem a controvérsia. A ideia de pensar conjuntamente aposta, ao mesmo tempo, na existência de uma relação mais intrincada entre “ataques” e “defesas”. É possível contemplar uma peça como Piss Christ com indiferença? Nesse sentido, a defesa de sua existência envolve necessariamente um ataque, seja àquilo que parece ser o alvo de sua critica, seja à própria imagem na medida em que fere os sentimentos de quem a vê. Considerado dessa maneira, esse objeto permite que a análise transite entre diversos temas: a arte, a religião, a política, os distintos espaços públicos que conformam as cidades em que vivemos. Procurei demonstrar como algo semelhante pode ser levantado a propósito das controvérsias que envolvem a imagem do Cristo Redentor. Acredito que essas controvérsias, aqui abordadas por meio da análise de alguns aspectos suscitados pelo episódio da pichação, participam da própria natureza do monumento. Também ele atrai ataques e defesas, num jogo intrincado de proteções e transgressões. Nesse sentido, se não em muitos outros, faz sentido aproximar o Cristo pichado e o Piss Christ.
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Notas
1 Muitas fotos do episódio estão disponíveis na web e remeto o leitor a duas delas. O Cristo pichado: http://maujalexandre.blogspot.com.br/2010/04/cristo-redentor-pichado-rio-de-janeiro.html, acesso em 26.04.2013. Os autores da pichação junto ao prefeito: http://curiosidadedeminas.blogspot.com.br/2010/04/pichadores-do-cristo-redentor-ajudam.html, acesso em 26.04.2013.
2 Vale lembrar que em 2007 o monumento do Cristo Redentor foi eleito, em votação aberta promovida por uma fundação suíça, como uma das “novas maravilhas do mundo”. Para maiores detalhes, ver Giumbelli & Bosisio (2010).
3 Foram para mim inspiradores o livro de Levinson (1998) e as coletâneas de Walkowitz & Kanauer (2004), de Nelson & Olin (2003) e de Knauss (1999).
4 Duas referências, entre muitas outras possíveis, que captam a efervescência da antropologia em torno de objetos e imagens, respectivamente: Gonçalves (2005) e Caiuby Novaes (2008).
5 O leitor reconhecerá a influência das sugestões de Latour (2008).
6 Nesse aspecto, pode-se contrastá-lo com o monumento a Ramos de Azevedo, em São Paulo, analisado por Fabris (1997).
7 Ver os textos e imagens reunidos no livro de Kaz & Loddi (2008).
8 Ver http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1040620-londres-pode-ter-replica-de-cristo-redentor-apos-jogos.shtml, acesso em 26.04.2013.
9 Ver http://www.cristo80anos.com/exposicao.html, acesso em 26.04.2013.
10 Cf. http://www.cristo80anos.com/exposicao.html, acesso em 26.04.2013.
11 Notícia de 19.04.2010, cf. http://www.arquidiocese.org.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm, acesso em 26.10.2012.
12 Cf. reportagem da revista evangélica Ultimato sobre as reações protestantes nos anos 1920, http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/303/rio-de-janeiro-1923-a-forte-reacao-protestante-ao-cristo-redentor/cristo+redentor, acesso em 26.04.2013.
13 http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/303/rio-de-janeiro-1923-a-forte-reacao-protestante-ao-cristo-redentor/cristo+redentor, acesso em 26.04.2013.
14 Seria preciso levar adiante uma afirmação a que o próprio Durkheim não atribui muita importância quando analisa os rituais dos aborígenes australianos: “Não há rito positivo que, no fundo, não constitua um verdadeiro sacrilégio” (DURKHEIM, 2000, p. 363-4).
15 Depoimento no artigo de Roberto Kaz para a Revista de História da Biblioteca Nacional, janeiro de 2007, disponível em http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=306&pagina=1, acesso em 26.10.2012.
16 Notícias nos jornais O Globo e Extra, entre 15.04.2010 e 25.04.2010, localizadas por meio do Arquivo Premium (http://arquivoglobo.globo.com/).
17 O mesmo jogo entre ocultação e revelação é percebido por uma das muitas pessoas que manifestam seu protesto à pichação: “(...) o pior é a mídia estampar a foto deste crime, sem distorcer a imagem da pichação. O criminoso deve estar comemorando sua primeira página, emoldurando sua destruição!”, Carta de leitor, jornal O Globo (16.04.2010).
18 Cf. http://observatoriomidiaesportiva.blogspot.com.br/2009/10/patrimonio-ou-simbolo.html, acesso em 26.04.2013, onde se pode também ver a montagem que resultou no Cristo armado.
19 www.mp.rj.gov.br, acesso em 05.08.2009.
20 Para o texto integral do pedido de suspensão da ação, ver http://s.conjur.com.br/dl/habeas-corpus-alberto-murray-neto.pdf, acesso em 26.04.2013.
21 O Globo, 03/10/2009, cf. Giumbelli & Bosisio (2010).
22 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u698222.shtml, acesso em 26.04.2013.
23 http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1164155-cristo-redentor-e-destruido-em-nova-animacao-nacional.shtml, acesso em 26.04.2013.
24 http://www.thepoke.co.uk/2011/06/03/banksy-hits-rio/, acessado em 26.04.2013.
25 Noticiados, respectivamente, em O Globo, 10/08/2009 e 29/06/2009.
26 A relação necessária entre centros e margens, considerada a partir do Estado, é um tema que poderia contemplar o que ocorre no episódio da pichação do Cristo Redentor e alguns de seus desdobramentos. Aquela relação é explorada no texto de Birman (2012) e foi suscitada em comentário de Vagner Gonçalves da Silva – que falou sobre os interstícios do Estado – na ocasião do debate que se seguiu a minha conferência.
27 Minhas fontes para os comentários acerca da obra foram Freeland (2001) e o verbete da Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Piss_Christ, acesso em 26.04.2013. Em se tratando de arte, é impossível que o tema da liberdade de expressão não venha à baila. O caso do Cristo pichado é interessante justamente porque não admite esse argumento – de fato, ninguém o utiliza para defender os pichadores. Nesse sentido, o episódio permite levantar questões que precisam recorrer a outro vocabulário que não o da “liberdade de expressão” quando se trata de entender certas formas de iconoclastia.
Para citar este artigo
Referência eletrónica
Emerson Giumbelli, «O Cristo Pichado», Ponto Urbe [Online], 12 | 2013, posto online no dia 31 julho 2013, consultado o 21 fevereiro 2025. URL: http://journals.openedition.org/pontourbe/586; DOI: https://doi.org/10.4000/pontourbe.586
Autor
Emerson Giumbelli
Emerson Giumbelli é professor do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É autor de O Fim da Religião: dilemas sobre a liberdade religiosa no Brasil e na França (2002). Email: emerson.giumbelli@yahoo.com.br
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