Alceste - Eur�pides
- ️Eur�pides
- ️Sat May 13 2006
Alceste
Eur�pides (c. 485 A.C.-406 A.C.)
Tradu��o e notas
J. B. de Mello e Souza*
Vers�o para eBook
eBooksBrasil
Fonte Digital
Digitaliza��o do livro em papel
Cl�ssicos Jackson, Vol. XXII
Diagrama��o adaptada aos formatos de eBook dispon�veis
© 2006 — Eur�pides
Alceste
TEM esta bela trag�dia de Eur�pedes, por principal objetivo, a exalta��o do amor conjugal que atinge o mais sublime hero�smo.
Alceste, Laod�mia e Pen�lope, esposas de Admeto, Protesilau e Ulisses, respectivamente, constituem o tr�ptico das mais nobres figuras femininas que a lenda grega nos apresenta. Das tr�s, por�m, coube � incompar�vel rainha de Feres praticar o rasgo de abnega��o que lhe assegura a primazia entre as esposas modelares.
Enumerando, no canto II da Il�ada, os contingentes hel�nicos aliados na luta contra a poderosa Tr�ia, Homero menciona os guerreiros de Feres, Glafira e I�lcos, sob o comando de Eum�lio, filho querido de Admeto e de Alceste, a quem o grande aedo considera “a gl�ria das mulheres”, e “a mais nobre descendente de P�lias”. Plat�o vai al�m, quando assevera que os pr�prios deuses consideraram t�o belo o auto-sacrif�cio de Alceste, que lhe concederam o privil�gio excepcional de retornar da sepultura � vida. “Os numes honraram nela a virtude m�xima do amor”, — conclui o fil�sofo. E � de crer que a lembran�a de Alceste houvesse inspirado a Shakespeare esta afirma��o, que ele atribui ao infeliz rei Lear:
“Upon such sacrifices, my Cordelia,
The Gods themselves throw incense!”
A trag�dia de Eur�pedes, que se inicia por um mon�logo do deus Apolo ao deixar o pal�cio de Admeto, e pela acrimoniosa discuss�o que essa benfazeja divindade sustenta com o executor implac�vel da Morte, — n�o nos proporciona surpresa alguma decorrente de intriga ou artif�cio. A a��o transcorre natural e logicamente at� o desfecho. O poeta mant�m sempre alcandorado o estilo, sem que as falas das personagens e as odes corais percam o alto teor do sentimento e da melancolia. Por isso mesmo, alguns tradutores e escoliastas estranham as duas �nicas passagens em que a aten��o se desvia, por alguns momentos, do epis�dio capital: tais s�o a fala do servo que descreve os excessos de plutonaria e a intemperan�a de H�rcules, — que cantava aos berros no recesso de um lar ferido pelo luto, — e a cena em que Admeto deblatera com o pai valetudin�rio, agredindo-se ambos com amargas diatribes, quando m�os piedosas j� transportam ao jazigo o ata�de que cont�m o corpo inanimado de Alceste.
Trasladando, para o vern�culo, a trag�dia de Eur�pedes, resolvemos adotar, para certos nomes, a forma ou a grafia que mais conveniente nos pareceu, ou a que melhor condiz com a �ndole de nosso idioma. Assim, preferimos conservar o nome grego T�natos para representar a Morte, e o de Hades para o sombrio pa�s de Plut�o. � evidente que a palavra inferno, mesmo no plural, que lhe asseguraria o sentido mitol�gico, causa revolta ao leitor, quando se trata de uma alma bon�ssima, como a da desditosa Alceste. Designando o nume horrendo por T�natos, evitamos o nome de Orco, o qual, segundo autorizados mitologistas, se aplica ao pr�prio deus Plut�o, como se v� nesta passagem, em que Hor�cio adverte que a morte atinge, inexoravelmente, a ricos e pobres:
“... si metit Orcus
Grandia cum parvis, non exorabilis auro?”
(Ep�stolas, II, 179)
comparada aos versos de Virg�lio, concernentes � morte da “mis�rrima Dido”:
“Nondum illi flavum Proserpina vertice crinem
Abstulerat, stygioque caput damnaverat Orco”.
(Ep�stolas, IV, 699)
Evitamos, destarte, o emprego dos voc�bulos Morte e Inferno, inadequados, em numerosos passos da trag�dia, em conseq��ncia do sentido que comportam na l�ngua portuguesa, como nos idiomas afins.
Id�ntica preocupa��o nos aconselhou a substituir “senhora” pela palavra “rainha”, sem preju�zo para o sentido, coarctando ambig�idades decorrentes do emprego daquele voc�bulo como sin�nimo de esposa, ou quando precedido do possessivo “Nossa”, caso em que a bela palavra assume significa��o especial e querida para os crist�os.
ALCESTE
Eur�pides
ALCESTE
PERSONAGENS
APOLO
T�NATOS (A Morte)
ADMETO, rei de Feres
ALCESTE, sua esposa
EUM�LIO, seu filho
H�RCULES
FERES, pai de Admeto
CORO (de anci�os de Feres)
UM SERVO
UMA SERVA
A cena se passa diante do pal�cio de ADMETO, na cidade de Feres, na Tess�lia
APOLO
� pal�cio de Admeto, onde me vi coagido a trabalhar como servo humilde, sendo embora um deus, como sou! J�piter assim o quis, porque tendo fulminado pelo raio meu filho Escul�pio, eu, justamente irritado, matei os Ciclopes, art�fices do fogo celeste. E meu pai, para me punir, imp�s-me a obriga��o de servir a um homem, a um simples mortal! Eis por que vim ter a este pa�s; aqui apascentei os rebanhos de meu patr�o, e me fiz protetor deste solar at� hoje. Sendo eu pr�prio bondoso, e servindo a um homem bondoso, — o filho de Feres — eu o livrei da morte, iludindo as Parcas. Estas deusas prometeram-me que Admeto seria preservado da morte, que j� o amea�ava, se oferecesse algu�m, que quisesse morrer por ele, e ser conduzido ao Hades.
Tendo posto a prova todos os seus amigos, seu pai, e sua velha m�e, que o criou, ele n�o achou quem consentisse em a dar vida por ele, e nunca mais ver a luz do sol! Ningu�m, sen�o Alceste, sua dedicada esposa; e agora, no pal�cio, conduzida a seus aposentos nos bra�os de seu marido, vai desprender-se sua alma, porque � hoje que o Destino exige que ela deixe a vida. Eis por que, para me n�o macular, eu abandono estes tetos queridos. Vejo que j� se aproxima T�natos, o odioso nume da Morte, para levar consigo Alceste � merenc�ria mans�o do Hades. E vem no momento preciso, pois aguardava apenas o dia fatal em que a m�sera Alceste deve perder a vida.
Entra T�NATOS
T�NATOS
Ah! Que procuras tu junto deste pal�cio? Que fazes aqui, Apolo? Queres ainda privar os deuses infernais das honras que lhes s�o devidas? J� n�o te basta haver desviado o destino de Admeto, iludindo as Parcas por meio de tuas artimanhas? E agora, com teu arco em m�os, zelas, talvez, pela filha de P�lias, que prometeu ao esposo morrer em seu lugar?
APOLO
Tranq�iliza-te! Nada pretendo, sen�o o que for justo, e razo�vel.
T�NATOS
Para qu�, ent�o, esse arco, se a teu favor tens a justi�a?
APOLO
� meu costume t�-lo comigo sempre.
T�NATOS
E proteger este pal�cio, desprezando as justas determina��es do Destino...
APOLO
Afligem-me, com efeito, as infelicidades daqueles a quem amo.
T�NATOS
E pretendes roubar-me esta segunda morte?
APOLO
N�o foi pela viol�ncia que agi para contigo.
T�NATOS
Como se explica, ent�o, que Admeto esteja sobre a terra, e n�o sepultado nela?
APOLO
Porque deu, por si, a esposa, a quem vieste buscar agora.
T�NATOS
Sim! E hei-de conduzi-la ao Hades subterr�neo!
APOLO
Toma-a, pois, contigo, e vai-te! N�o sei se conseguiria convencer-te!
T�NATOS
De qu�? De que devo matar aqueles que devem morrer? Pois se � este o meu of�cio!
APOLO
N�o! mas de preferir aqueles que tanto tardam em morrer![1]
T�NATOS
Compreendo tuas raz�es; teu zelo � natural.
APOLO
Ainda bem! Dize, pois: haver�, por acaso, um meio pelo qual a pobre Alceste consiga chegar � velhice?
T�NATOS
Ah! N�o!... Fa�o empenho em defender minhas prerrogativas!
APOLO
Ao menos estou certo de que n�o arrebatar�s daqui sen�o uma �nica alma!
T�NATOS
Quando morre quem est� na flor da idade, bem maior � minha gl�ria!
APOLO
Mas, se ela morresse quando idosa, teria um funeral mais sumptuoso!...
T�NATOS
O que prop�es, Apolo, favorece aos ricos, t�o somente.
APOLO
Que dizes? Por acaso aprendeste a raciocinar com tanta subtileza, sem que o soub�ssemos?
T�NATOS
Sim! Os abastados comprariam o direito de morrer em ancianidade.
APOLO
Tu me recusas, pois, a gra�a que solicito?
T�NATOS
Recuso-a, sim. Bem conheces meu regime.
APOLO
Que � funesto aos mortais, e odioso aos pr�prios deuses!
T�NATOS
Nada conseguir�s daquilo que n�o deves conseguir.
APOLO
Tu moderar-te-�s, por muito cruel que sejas, Eis que se aproxima um homem do pal�cio de Feres. � um her�i, que Euristeu envia �s long�nquas regi�es da Tr�cia, para apoderar-se dos cavalos de Diomedes; mui breve ser� recebido, como h�spede, no pal�cio de Admeto, e pela for�a, h�-de te arrebatar a esposa[2]. Assim, nenhuma gratid�o te deverei; tu n�o far�s o que eu n�o quero que fa�as, e n�o menos execrado ser�s por isso.
T�NATOS
Dize o que quiseres; nada mais ter�s de mim. Esta mulher descer� � mans�o sombria de Plut�o. Vou j� preludiar, pela espada, o sacrif�cio; porque � imediatamente consagrado aos deuses infernais aquele de cuja cabe�a esta l�mina cortar um s� fio de cabelo![3]
(Saem)
O CORO, em dois grupos compostos de anci�os de Feres
1º GRUPO
Por que t�o profundo sil�ncio no vest�bulo deste pal�cio? Por que t�o calmo est� o solar do rei Admeto?
2º GRUPO
N�o se v� um s� amigo que nos possa dizer se j� � tempo de prantear a rainha morta, ou se, ainda em vida, Alceste, a filha de P�lias, v� a luz do sol, ela, que se tem revelado a melhor esposa, a mais dedicada a seu marido!
1º GRUPO
Ouve algu�m, l� de dentro, gemidos, prantos ou o angustioso atrito das m�os[4] lamentando o golpe da fatalidade? Nem um s� dos servos se v� junto ao p�rtico. Praza aos deuses que P� nos apare�a, para dar um fim a tanta desventura!
2º GRUPO
Eles n�o conservariam tanto sil�ncio, se ela estivesse morta. N�o creio que o corpo j� tenha sido retirado do pal�cio!
1º GRUPO
Por que pensais assim? N�s nada percebemos! Como estais assim seguros do que dizeis?
2º GRUPO
Como teria Admeto podido realizar, em segredo, os funerais de uma esposa t�o digna?
1º GRUPO
N�o se v�, junto � porta, o vaso de �gua lustral, como � de costume colocar-se � entrada da casa onde h� um morto; no vest�bulo n�o est�o suspensos os cabelos, que os amigos, possu�dos de dor, cortam de suas frontes, nem se ouve a triste lamenta��o das carpideiras.
2º GRUPO
No entanto, chegou o dia fatal...
1º GRUPO
Que dizeis?
2º GRUPO
O dia em que ela deve descer � sepultura!
1º GRUPO
Comoveste-me o cora��o, e o �ntimo de minha alma. Quando criaturas bondosas est�o imersas na dor, quem quer que tenha bons sentimentos deve dela compartir.
O CORO
Para onde quer que se envie uma galera[5] ningu�m poder� salvar a alma dessa infeliz; quer na L�cia, quer nas ardentes regi�es de �mon: porque o Destino � inexor�vel, e n�o tarda! N�o sabemos a que deuses devemos recorrer, nem a que sacerdote pedir aux�lio neste transe!
Ah! Se vivesse ainda o filho de Apolo, poderia Alceste retornar ainda da sombria estrada que conduz � porta do Hades. S� ele ressuscitava os mortos, enquanto n�o foi fulminado pelo raio de J�piter! Agora, por�m, que esperan�as de salva��o poderemos conceber? Todos os ritos j� foram cumpridos por nosso rei; sobre as aras de todos os deuses realizam-se sangrentos sacrif�cios; e n�o h� rem�dio para a desgra�a que o fere.
Eis, por�m, que uma das servas de Alceste vai sair do pal�cio, lacrimosa. Que nos dir� ela? � natural sua afli��o, visto que seus senhores est�o, tamb�m, sob o peso do infort�nio. Viver�, ainda, Alceste, ou n�o? Eis o que ansiosamente desejamos saber.
Entra A SERVA
A SERVA
Bem podeis afirmar que ela est�, ao mesmo tempo, morta, e viva!
O CORO
Mas como pode algu�m estar na morte, e em vida ainda?
A SERVA
Porque, j� com a cabe�a pendida, ela vai entregar a alma...
O CORO
� infeliz rei! Que boa esposa perdes tu, que �s t�o digno dela!
A SERVA
O rei n�o o saber�, sen�o depois de a ter perdido.
O CORO
E n�o h� mais esperan�a alguma de lhe salvar a vida?
A SERVA
Infelizmente, o dia fat�dico chegou.
O CORO
E j� est�o preparando as solenidades?
A SERVA
As vestes com que o esposo a inumar� j� est�o prontas.
O CORO
Que ela saiba, pois, que tem morte gloriosa, sendo a melhor de todas as mulheres que t�m existido sob o sol!
A SERVA
E como n�o seria a melhor das esposas? Quem o negar�? Que outra mulher se lhe poder� avantajar? Que outra esposa faria mais por seu marido, do que oferecer-se para morrer por ele? Toda a cidade disso est� ciente; mas v�s tereis vossa admira��o aumentada ao saberdes o que ela fez no interior do lar. Quando sentiu que era chegado o dia fatal, lavou o seu corpo alv�ssimo na �gua do rio, e, retirando dos escr�nios os seus mais belos ornatos, vestiu-se ricamente; depois, diante do altar dom�stico, fez esta prece: “� Deusa! Vou para a regi�o das sombras, mas quero venerar-te, pela �ltima vez em minha vida, rogando-te que tenhas pena de meus filhos �rf�os! Concede-me que um deles tenha uma boa esposa, e a outra, um digno marido. E que eles n�o morram, como sua infeliz m�e, antes do tempo fixado pelo destino, mas que vivam, felizes e pr�speros, na terra da P�tria!” Em seguida, visitando todos os altares que h� no pal�cio de Admeto, ela depositou sobre eles coroas de flores, esparzindo ao redor folhas de murta, e orou, sem um s� gemido ou lamenta��o, porque a imin�ncia do trespasse em nada alterou sua fisionomia pl�cida e bela. Depois, voltando � c�mara nupcial, deixou-se cair sobre o leito; s� ent�o, com os olhos lacrimosos, disse: “� meu leito, onde perdi minha virgindade pelo amor deste homem, por quem hoje vou morrer! N�o te lamento, porque somente a mim vais perder; e eu morro para ser fiel a meu esposo. Uma outra h�-de te possuir, — quem sabe? — nunca mais casta do que eu, mas talvez mais feliz!...” E, agarrando-se ao leito, beijava-o, molhando-o com suas copiosas l�grimas. Assim aliviada pelo pranto, ergue-se, retira-se do aposento, com a cabe�a baixa, para voltar v�rias vezes, e de novo atirar-se sobre o leito. Choravam os filhos, agarrados �s vestes de sua m�e; e ela, tomando nos bra�os ora um, ora outro, beijava-os maternalmente, como quem sabe que vai morrer. Todos n�s, servos, chor�vamos, tamb�m, em nossos aposentos, condo�dos da sorte da nossa rainha. Ela estendia-nos a m�o, em despedida, tendo uma palavra carinhosa para cada qual, por mais humilde que fosse. Tais s�o os males que afligem a casa de Admeto; se ele tivesse de perecer, j� estaria morto; mas, tendo evitado a morte, sofre uma dor tamanha, que nunca mais a poder� esquecer!
O CORO
E Admeto deplora, certamente, a perda de uma esposa t�o bondosa!
A SERVA
Sim, ele chora, tendo nos bra�os a companheira querida, e pede-lhe que n�o o abandone, desejo imposs�vel agora! Sim, porque ela j� se vai consumindo pelo mal, e pesa nos tristes bra�os do marido. Embora possa apenas respirar ainda, quer contemplar a luz do sol, que nunca mais lhe ser� dado rever, pois � a �ltima vez em que os raios do astro do dia vir�o at� seus olhos. Vou anunciar, por�m, vossa chegada; pois nem todos se mostram t�o dedicados ao seu chefe, para que o visitem na hora do infort�nio. V�s sois, por�m, velhos e leais amigos de nosso rei!
1º GRUPO
� J�piter! Como fugir a tamanha desgra�a? Que rem�dio haver�, para o golpe que amea�a os nossos soberanos? Vir� algu�m dar-nos not�cia do que se passa? Deveremos cortar nosso cabelo, e vestir trajo de luto? � certo que o faremos, amigos! No entanto continuemos a invocar os deuses! Imenso � o poder dos numes imortais!
2º GRUPO
� Rei Paian![6] imagina um meio para libertar Admeto de tamanha desgra�a! Vem em seu socorro! Tu j� o salvaste uma vez; salva, agora, tamb�m, a Alceste! Livra-a do poder homicida de Plut�o!
1º GRUPO
Oh! Oh! Filho de Feres, como te lamentas, privado de tua mulher! N�o seria menor sofrimento a morte pelo gume da espada, ou por um la�o fatal? Sim, porque ver�s hoje morrer uma companheira t�o amada, a mais digna esposa que poder� existir no mundo!
2º GRUPO
Ei-la que sai do pal�cio, com seu esposo. Terra de Feres, chora, lamenta a perda desta excelente matrona, que, consumida pelo mal, vai descer � mans�o soturna do Hades!
N�o! Nunca direi que o himeneu d� mais venturas do que dores; a julgar pelos dramas j� passados e pelo destino deste rei, que tendo perdido a melhor das esposas, arrastar� doravante um viver que j� n�o � mais vida!
Entram ADMETO e ALCESTE
ALCESTE
� sol, maravilhosa luz do dia! � nuvens que os ventos do c�u velozes arrastam!
ADMETO
O sol te v�, e a mim tamb�m... Dois infelizes que nada fizeram contra os deuses, para que tu morras!
ALCESTE
� minha terra, � meu ditoso lar, � meu quarto de I�lcos, onde meu pai foi rei!
ADMETO
Reanima-te, infeliz! N�o te abandones, assim, ao desespero! Roga aos deuses poderosos, para que se compade�am de ti!
ALCESTE
Eu vejo... eu j� estou vendo... o sinistro barco de dois remos. O guia dos mortos, Caronte, j� me chama: “Por que demoras tu? Caminha, pois, que me retardas!”[7] E assim me for�a a apressar-me.
ADMETO
Ai de ti, que falas nessa dolorosa travessia! Infeliz Alceste, como sofremos!
ALCESTE
Est�o me arrastando... Eu o sinto! Algu�m me oprime... tu n�o v�s? Arrastam-me para a mans�o dos mortos... � Plut�o!... ele mesmo!... Com suas asas... e seus olhos horrendos, cercados de negras sobrancelhas... Oh! Que fazes? Deixa-me! pobre de mim! Que caminho sombrio � este, por onde me conduzem?
ADMETO
... Um caminho doloroso para teus amigos, e mais ainda para mim, e para teus filhos, que partilham de meu desespero!
ALCESTE
Deixa-me! Deixa-me! Quero deitar-me... os p�s j� n�o me sustentam mais! O Hades est� pr�ximo... uma noite escura cai sobre meus olhos. � meus pobres filhinhos, j� n�o tendes m�e!... Adeus, meus filhos... gozai a luz... a luz radiosa do dia!
ADMETO
Ai de mim! Ou�o tristes palavras... mais dolorosas que a morte! Eu te pe�o, Alceste! pelos deuses! N�o me abandones! Pelos filhos que vais deixar na orfandade! Levanta-te! Tem esperan�a ainda! Se tu morreres, tamb�m eu n�o viverei mais! Estejas tu viva, ou n�o, eu dependo de ti por tudo, e sempre; o amor que tenho por ti � sagrado!
ALCESTE
Admeto, bem v�s a que extremidade cheguei; desejo, antes de morrer, que ou�as o que te quero revelar. Amando-te sinceramente, e dando minha vida para que continues a ver a luz, morrerei por ti quando poderia viver por longo tempo ainda, receber por esposo aquele, dos tess�lios, que eu preferisse, e habitar um pal�cio real. Mas recusei-me a viver privada de tua companhia, e a ver meus filhos sem pai; n�o me poupei, dispondo embora dos dons da mocidade e dos meios de os usufruir. Trairam-te teu pai e tua m�e, sim! pois sua avan�ada idade lhes permitiria uma morte gloriosa, salvando o filho por um rasgo merit�rio. �s, com efeito, o filho �nico que possuem; ap�s tua morte, nenhuma esperan�a lhes seria poss�vel, de ter ainda prole no futuro. E eu continuaria a viver, tu n�o sofrerias, por toda a vida, a falta de uma esposa, e n�o serias for�ado a educar filhos �rf�os de m�e... Mas um deus quis que as coisas tomassem este rumo... Seja! De tua parte, e porque sempre te h�s-de lembrar disto, concede-me uma gra�a, em troca; n�o igual � que te fa�o, pois n�o h� bem mais precioso que a vida; mas justa, como tu mesmo reconhecer�s. Tu amas a nossos filhos tanto quanto eu, se teu cora��o � sincero e honesto. Que sejam eles os donos de nosso lar! N�o os submetas, nunca, � autoridade de uma madrasta, que seria certamente inferior a mim, e que, impelida pelo ci�me, maltrataria essas pobres crian�as que s�o teus filhos, mas tamb�m s�o meus! Eu te conjuro: n�o fa�as tal coisa! A madrasta que sucede � esposa � inimiga dos filhos do primeiro matrim�nio, e em nada inferior a uma v�bora!
O filho var�o tem, no pai, um protetor; corre para ele, e o pai o protege. Mas quanto a minha filha, como poder� ser honestamente educada durante sua virgindade? � minha filha! Que segunda esposa de teu pai mandar� sobre ti? Receio bem que, lan�ando sobre tua reputa��o uma n�doa infamante, possa ela amargurar tua juventude, e impedir que realizes um ditoso casamento. Tua m�e nada poder� fazer pelo teu cons�rcio; nem estar� a teu lado quando vierem ao mundo teus filhos, quando n�o h� companhia mais querida que a de uma boa m�e. Devo morrer; e este cruel trespasse n�o ser� amanh�, nem no terceiro dia do m�s; mas dentro de alguns momentos j� estarei inclu�da entre os mortos. Meu esposo, s� feliz... Tu bem te podes gloriar de ter possu�do a mais amorosa das esposas, e v�s, queridos filhos, de terdes tido a mais carinhosa das m�es!
O CORO
Tranq�iliza-te, Alceste; n�o tememos falar por ele; ele cumprir� teu desejo, a menos que haja perdido a raz�o!
ADMETO
Sim! Tudo farei como pedes; n�o tenhas receio! Tendo-te possu�do em vida, continuarei a considerar-te minha esposa depois da morte. Nenhuma outra mulher tess�lia me chamar� seu marido; nenhuma, por mais nobre que seja sua jerarquia, e maior sua beleza! S� pe�o aos deuses que me permitam zelar por nossos filhos, visto que n�o me deram a ventura de conservar a ti tamb�m. Meu luto n�o durar� um ano, mas toda a vida, � minha esposa! E doravante detestarei minha m�e e meu pai, visto que se mostram meus amigos s� no nome, mas n�o de cora��o. Tu, sim! tu me salvaste, oferecendo o que tens de mais caro, — a vida! — para poupar a minha! E n�o devo eu chorar a perda de uma esposa como tu? Doravante n�o quero mais banquetes, nem festas animadas pela presen�a de amigos, nem coroas floridas, nem os cantos de alegria que guarneciam meu pal�cio. Nunca mais tocar�o meus dedos as cordas da lira, nem minha voz se ouvir� ao som da flauta l�bia; tu levar�s contigo todo o encanto de minha vida. Mas tua imagem, que farei reproduzir por um artista, h�-de permanecer em minha c�mara nupcial; e eu estarei a seus p�s, eu a abra�arei, invocando teu nome, na ilus�o de abra�ar ainda minha querida esposa, embora sabendo que n�o a verei mais! Triste consola��o, penso eu; mas assim aliviarei minha alma; e, visitando-me em sonhos, tu dar�s algum conforto � minha viuvez. � grato, com efeito, rever aqueles a quem amamos, em quaisquer circunst�ncias, inclusive em sonho. Ah! Se eu dispusesse da voz e da inspira��o de Orfeu, a fim de acalmar a filha de Ceres, ou seu marido, e retirar-te do Hades, eu l� iria ter, e nem o c�o de Plut�o, nem Caronte, o timoneiro das almas, com seu remo, poderiam impedir que eu te trouxesse de novo � regi�o da luz! Ao menos, espera-me l�, para que, quando eu morrer, fa�a minha alma companhia � tua. Ordenarei, com efeito, que me sepultem contigo, no mesmo esquife de cedro, onde repousaremos, lado a lado! Nem a morte me separar� de ti, que me foste t�o fiel!
O CORO
E n�s, como amigos que somos, partilharemos da saudade que ela te h�-de inspirar, ela que � t�o digna!
Entram os filhos de ADMETO
ALCESTE
Meus filhos, ouvistes vosso pai, que assume o compromisso de n�o vos dar uma segunda m�e, e de n�o desonrar nosso leito conjugal!
ADMETO
Eu o juro; e hei-de cumprir minha palavra!
ALCESTE
Com essa condi��o, recebe estes nossos filhos, de minha m�o!
ADMETO
Recebo uma d�diva preciosa, de m�os queridas!
ALCESTE
E doravante, s� tamb�m, em meu lugar, a m�e destas crian�as!
ADMETO
Assim farei, visto que ser�o destitu�dos do carinho maternal!
ALCESTE
Filhos meus, quando eu mais precisava viver, sou arrastada para a morte!
ADMETO
Ai de mim! Que farei sem ti!
ALCESTE
O tempo moderar� tua dor; os mortos nada mais s�o...
ADMETO
Leva-me contigo, pelos deuses imortais!
ALCESTE
N�o; basta que eu me sacrifique por ti!
ADMETO
Cruel destino! De que esposa tu me privas!
ALCESTE
Sinto que meus olhos se velam de uma nuvem escura...
ADMETO
Eu morrerei, Alceste, se me abandonares!
ALCESTE
Foge-me a vida... j� nada mais sou...
ADMETO
Olha! Reergue-te! N�o abandones teus filhos!
ALCESTE
� bem a meu pesar que os deixo... adeus, meus filhos!
ADMETO
Um �ltimo olhar para eles! Ai de n�s!
ALCESTE
Tudo se acabou para mim!
ADMETO
Que dizes? Tu nos vais deixar?
ALCESTE
Adeus!
(Morre ALCESTE)
ADMETO
Estou perdido!
O CORO
Ela j� n�o vive! Admeto n�o tem mais esposa!
EUM�LIO
Como sou desgra�ado, meu pai! Minha m�e foi para o Hades! Nunca mais ver� a luz do sol! Infeliz, ela abandonou a vida, e deixou-me �rf�o! V�, meu pai, como suas p�lpebras est�o im�veis, e suas m�os desfalecidas! � minha m�e! Minha m�e! Ouve-me! Ouve-me, eu te pe�o! Sou eu, minha m�e! Sou eu, teu filho! Fala! Teu filho � quem te chama, bem perto de teus l�bios!
ADMETO
Tu chamas, em v�o, por quem n�o te v�, nem te ouve mais. Fomos ambos v�timas de uma dolorosa desgra�a!
EUM�LIO
T�o jovem ainda, meu pai, eis-me abandonado por minha m�e querida! Como me sinto infeliz! E tu, minha irm�zinha, que partilhas de minha triste sorte! Ah! meu pai! Em v�o, em v�o escolheste uma esposa! N�o atingiste, com ela, a velhice!... Ela te precedeu na sepultura! Contigo, minha pobre m�e, perece toda a nossa casa!
O CORO
Admeto, � mister que te conformes com a desgra�a! Tu n�o �s o primeiro dos mortais a perder uma esposa virtuosa! Bem sabes que a morte � uma d�vida que todos n�s devemos pagar!
ADMETO
Eu sei, eu bem sei! Este golpe n�o me feriu de surpresa! De h� muito eu o esperava, e j� sofria por isso! Mas... urge celebrar os funerais da morta. Auxiliai-me, e cantai um canto f�nebre ao deus subterr�neo, a quem n�o se oferecem liba��es! Que todos os tess�lios que vivem no meu reino tomem parte no luto por esta mulher, cortando os cabelos da fronte, e trajando de negro. Que tamb�m se cortem as crinas dos cavalos das quadrigas, bem como dos que cavalgam s�s. Que n�o se ou�a, por toda a cidade, o som das flautas e das c�taras, durante doze luas inteiras! Jamais levarei � sepultura pessoa que me tenha sido t�o querida, e que mais haja merecido de mim! Ela � bem digna de que eu lhe preste todas as honras, visto que morreu, voluntariamente, em meu lugar!...
Saem ADMETO (conduzindo o corpo de Alceste) e os filhos.
O CORO
� filha de P�lias, descansa em paz na mans�o do Hades, que a luz do sol n�o atinge! Que o deus de negros cabelos, e o velho Caronte, remador e guia, saibam que ela � a mais nobre de todas as mulheres que t�m transposto o paul do Aqueronte, no barco de dois remos!
H�o-de te celebrar os aedos por seus cantares, ao som do heptac�rdio, e por vibrantes hinos n�o acompanhados pela lira, em Esparta, quando a ronda do tempo trouxer a lua cheia do m�s Caineano[8], e na f�rtil e opulenta Atenas; porque tua morte dar� copiosa e comovente mat�ria ao estro dos poetas!
Por que, por que n�o poderemos n�s restituir-te � luz, arrancar-te do sombrio reino de Plut�o, e trazer-te, repassando o Cocito, na barca fat�dica? Por que, � mulher inigual�vel e esposa querida, s� tu, s� tu tiveste coragem de dar tua vida preciosa, para resgatar a de teu esposo? A terra te seja leve! Se algum dia teu marido convolar segundas n�pcias, ele tornar-se-� odioso, a n�s, e a teus filhos! Nem a m�e de Admeto, nem seu velho pai quiseram dar a vida pela do filho; deixaram nas m�os de Plut�o aquele a quem puseram no mundo; recusaram-se a salv�-lo, eles, infelizes, cujos cabelos j� branquearam! No entanto, na flor da idade, tu morres por teu jovem esposo. Possam os deuses conceder-nos esposas assim, para nossas companheiras! Preciosidade tamanha, mui raramente se encontra na vida. Elas seriam felizes conosco; e nossa vida transcorreria serena, sem uma nuvem!
Entra H�RCULES
H�RCULES
� habitantes de Feres, encontrarei eu Admeto neste pal�cio?
O CORO
Sim, H�rcules! — O filho de Feres est� em sua casa. Dize-me, por�m: que � que te conduz ao pa�s dos Tess�lios, e a nossa cidade?
H�RCULES
Tenho a cumprir um dever imposto por Euristeu, de Tirinto.
O CORO
Qual � o teu rumo? Que viagem vais realizar?
H�RCULES
Vou apoderar-me dos corc�is de Diomedes, o tr�cio.
O CORO
Como, por�m, conseguir�s tal coisa? Por acaso ignoras quem � esse estrangeiro?
H�RCULES
N�o o conhe�o; nunca estive na terra dos Bist�nios.
O CORO
N�o te apoderar�s, sem s�ria luta, desses terr�veis animais!
H�RCULES
Mas n�o � l�cito fugir ao cumprimento dessa obriga��o.
O CORO
Ter�s que mat�-lo, e voltar; ou por l� cair�s morto.
H�RCULES
N�o ser� o primeiro combate que eu deva travar.
O CORO
E que ganhar�s tu, depois de vencer a Diomedes?
H�RCULES
Levarei os cavalos ao rei de Tirinto.
O CORO
N�o ser� f�cil impor-lhes o freio!
H�RCULES
S� se eles expelirem fogo pelas narinas!
O CORO
Eles despeda�am criaturas humanas com seus dentes vorazes!
H�RCULES
A carne humana ser� alimento de feras, mas n�o de cavalos.
O CORO
Pois tu h�s-de ver as cavalari�as inundadas de sangue!
H�RCULES
E, quem assim os sustenta, de que pai � filho?
O CORO
De Marte! Ele � rei da Tr�cia; rico, potente e belicoso,
H�RCULES
Eis a� uma empresa digna de meu destino! � perigosa, mas visa um fim merit�rio. Terei de combater contra os filhos de Marte! Licaonte primeiro; depois Cicno; e agora, Diomedes com seus ferozes cavalos. Mas ningu�m ver� jamais, o filho de Alcmena tremer diante de inimigos!
O CORO
Eis a� o rei desta cidade, Admeto, que sai de seu pal�cio.
Entra ADMETO
ADMETO
Salve, � filho de J�piter, e descendente de Perseu!
H�RCULES
Eu te sa�do, Admeto, rei dos tess�lios! S� feliz!
ADMETO
Ah! eu bem o quisera! Sei o quanto �s benevolente para comigo!
H�RCULES
Por que tens os cabelos cortados, e as vestes de luto?
ADMETO
� porque devo, ainda hoje, sepultar um cad�ver.
H�RCULES
Que os deuses afastem a desgra�a de teus filhos!
ADMETO
Meus filhos est�o vivos, em seus aposentos.
H�RCULES
Se foi teu pai que morreu, j� era bem idoso para isso!
ADMETO
Mas vive ainda meu pai, e tamb�m minha m�e.
H�RCULES
Certamente n�o � Alceste, tua esposa, a morta?
ADMETO
Devo dar-te uma resposta d�bia...
H�RCULES
Que dizes? Est� ela viva, ou morta?
ADMETO
Ela �... e n�o � mais... e isso me enche de dor!
H�RCULES
N�o compreendo o que dizes; tuas palavras s�o obscuras para mim!
ADMETO
N�o sabes do destino que ela ter� de sofrer?
H�RCULES
Sim; sei que ela resolveu ceder a vida em teu lugar.
ADMETO
Como direi, pois, que ela exista, se consentiu tal coisa?
H�RCULES
Oh! N�o estejas a lamentar prematuramente a morte de tua esposa; espera o momento!
ADMETO
Quem deve morrer, j� est� morto; e quem est� morto, j� n�o existe...
H�RCULES
No entanto, ser e n�o ser s�o coisas muito diferentes.[9]
ADMETO
Tu pensas assim, H�rcules; mas eu de modo muito diferente!
H�RCULES
Afinal, por quem choras, tu, ent�o? Qual de teus amigos morreu?
ADMETO
Uma mulher. � numa mulher que penso!
H�RCULES
Uma estranha, ou pertence a tua fam�lia?
ADMETO
Uma estranha... mas muito ligada a mim, e a minha casa.
H�RCULES
Mas como aconteceu que ela tenha vindo morrer em tua casa?
ADMETO
Seu pai morreu, e ela veio viver aqui, j� �rf�.
H�RCULES
Oh! Como eu gostaria de n�o te encontrar assim lacrimoso!
ADMETO
Por que dizes isso, H�rcules?
H�RCULES
Porque sou obrigado a procurar hospitalidade em outra casa.
ADMETO
Isto n�o � permitido, H�rcules! Que nunca me aconte�a semelhante desgra�a!
H�RCULES
Um h�spede que chega inesperadamente � sempre uma sobrecarga para quem sofre uma afli��o.
ADMETO
Os mortos, mortos est�o. Entra em minha casa!
H�RCULES
Ser� uma vergonha que pessoas amarguradas por um desgosto ofere�am um banquete a amigos.
ADMETO
Os aposentos dos h�spedes, para onde te conduzirei, ficam afastados.
H�RCULES
Deixa-me seguir adiante; eu te ficarei grato.
ADMETO
N�o! Tu n�o podes procurar abrigo em casa de outro. Ol�, servo! Caminha na frente; abre os aposentos dos h�spedes, e avisa aos que s�o encarregados disso, que preparem abundante refei��o. V�s outros: fechai as portas internas: n�o conv�m que os convivas ou�am nossos gemidos, e que nossos h�spedes se entriste�am com as nossas dores.
(Saem H�RCULES e os servos)
O CORO
Que fizeste, Admeto? Como te animas a receber h�spedes, quando te acabrunha tamanha desgra�a? N�o ter� sido uma insensatez de tua parte?
ADMETO
E se eu o repelisse de meu lar, e da cidade, por acaso aprovar�eis esse meu ato? N�o, certamente! Minha dor n�o seria menor, e eu teria faltado ao cumprimento das leis da hospitalidade. Ao desgosto que j� sofro, eu veria juntar-se outro, qual fosse o de ver minha casa considerada in�spita. Tenho tido nele um amigo dedicado e acolhedor, sempre que visito o �rido pa�s da Arg�lida.
O CORO
E por que raz�o n�o lhe revelaste a inteira verdade acerca de teus males, visto que, como dizes, � um amigo sincero que se acha sob teu teto?
ADMETO
Ele n�o consentiria em aceitar a hospitalidade que lhe ofere�o, se soubesse de minha desventura. Sei que a muitos causar� estranheza e reprova��o o meu proceder; mas nunca se dir� que minha casa n�o se abriu para receber um amigo forasteiro.
(Sai ADMETO)
O CORO
� casa hospitaleira de Admeto, casa acolhedora e generosa, o deus Apolo, de harmoniosa lira, dignou-se viver sob teu abrigo, e n�o se envergonhou de passar por um modesto pastor, e assim apascentar, por estas colinas de ondula��o suave, os seus rebanhos, modulando doces �rias ao som da avena campestre.
Seduzidos por estas melodias, ali vinha ter o t�mido lince, de pele marchetada; das grotas do �tris sa�am, em grupos, os sanguin�rios le�es; e o veadinho de listrado dorso ousava sair dos escuros da floresta para ouvir, de perto da lira, os deliciosos acordes[10].
Gra�as a ti, � Apolo, Admeto possui numerosos rebanhos que vivem ao longo das margens do lago de Bebei, de �guas cristalinas; seus campos cultivados, e seus bosques verdejantes se estendem at� longe no ocidente, e sua autoridade atinge do mar Egeu, �s plagas inating�veis do P�lios. Eis que ele se v� for�ado a receber um h�spede enquanto chora ainda, debulhado em l�grimas, a morte da esposa muito amada, que acaba de exalar o �ltimo suspiro neste pal�cio... E isso lhe acontece, porque ele possui um cora��o nobre, e sabe prezar a amizade sagrada. S�o assim generosos todos quantos se orientam pela verdadeira sabedoria. Tenhamos confian�a! O mortal piedoso h�-de ter, sempre, o justo pr�mio de sua virtude.
Entra ADMETO (Os servos transportam o ata�de)
ADMETO
Cidad�os de Feres! V�s, que aqui viestes para testemunhar-me vossa afei��o, sabei que meus servidores j� prepararam o cad�ver conforme prescreve o rito, e agora o transportam at� a pira funer�ria e ao perp�tuo jazigo. Saudai tamb�m v�s, conforme o costume, aquela que ora realiza sua derradeira viagem.
O CORO
Vejo teu pai, que caminha com o vagaroso passo da velhice, e os servos que trazem nas m�os os f�nebres ornamentos com que honramos os mortos.
Entra FERES
FERES
Aqui estou eu, meu filho, para partilhar de tua dor. Perdeste uma esposa virtuosa; ningu�m o negar�! Mas � preciso que te resignes a este golpe, embora seja penoso suport�-lo. Recebe estes ornatos, e deposita-os na sepultura. � dever que te incumbe, venerar a quem morreu para te salvar a vida, para que eu conservasse meu filho, e n�o consumisse a �ltima fase da minha vida, ao abandono, e em luto. Com este rasgo de generosidade, ela deixou, para o sexo, uma gl�ria imortal. � tu, que salvaste meu filho e poupaste minha velhice, adeus! Possas tu, mesmo no triste dom�nio de Plut�o, gozar de algum conforto. S� as esposas como tu asseguram aos homens a ventura na vida; sem elas, o matrim�nio seria uma inutilidade!...
ADMETO
Tu n�o foste convidado por mim a este funeral! Eu n�o te considero mais meu amigo, entre tantos que aqui est�o presentes! Alceste n�o usar�, nunca! — os ornatos que lhe trouxeste; ela de ti nada precisa para descer � sepultura. Tu devias chorar, quando eu estava prestes a morrer; mas ficaste de longe, deixando que se sacrificasse outra mais jovem, velho como �s! E agora vens carpir junto ao esquife! N�o! Tu n�o �s meu pai! E aquela que se diz minha m�e e que usa meu nome, n�o me concebeu! Talvez, filho de um ventre escravo, eu tenha sido furtivamente posto no rega�o de tua mulher. Tu provaste ser quem realmente �s! Creio, firmemente, que n�o sou teu filho! Tu sobrepujas a todos os homens pela covardia, visto que, em idade t�o avan�ada, j� no extremo de tua vida, n�o tiveste a coragem de morrer por teu filho, mas deixaste essa honra a uma mulher, a uma estrangeira, a quem eu considero minha m�e e meu pai! No entanto, a morte que terias, em lugar de teu filho, equivaleria a um triunfo, sendo curto o tempo que ainda te resta a viver! Alceste e eu viver�amos felizes o resto de nossos dias, e eu n�o lamentaria minha viuvez. No entanto, tudo o que um mortal poderia ambicionar, como felicidade, tu conseguiste: tua mocidade, tu a gozaste no trono; tinhas em mim um filho e herdeiro de teus estados, n�o receando pois, que por falta de um sucessor, viessem a cair em poder de estranhos. Nunca dir�s, pois, que tendo desprezado a velhice, tu me abandonaste � morte; a mim, que sempre demonstrei tamanho respeito por ti![11] E eis a prova de gratid�o que me destes, tu, e minha m�e! Trata, pois, de descobrir outros filhos que alimentem tua velhice, e que te prestem honras f�nebres, porque, quanto a mim, direi que meus bra�os nunca te levar�o � sepultura; no que dependia de ti, estou morto; se encontrei uma pessoa que me salvou, a ela � que devo ternura filial. Mentem os velhos que a cada momento invocam a morte, queixando-se da velhice, e da longa dura��o da vida; pois se a morte se aproxima, ningu�m quer morrer, e a velhice deixa de ser um doloroso fardo!
O CORO
Cessa! Cessa! J� n�o � bastante a desgra�a presente? N�o amargures ainda mais, Admeto, o cora��o de teu pai.
FERES
Filho meu, a quem injurias assim? Ser� por acaso a algum l�dio, ou fr�gio, comprado por dinheiro? N�o sabes que sou tess�lio, filho de pai tess�lio, e livre de nascen�a? Tu me ofendes em demasia! Mas, depois de me teres lan�ado t�o violentas censuras, n�o ficar�s impune! Dei-te a vida, e te eduquei, para que fosses, depois de mim, o chefe de meu patrim�nio; mas nunca me obriguei a morrer em teu lugar! N�o h� tradi��o dos antepassados, nem leis da H�lade, determinando que morram os pais pelos filhos. Feliz, ou n�o, que cada qual tenha o seu destino! Tudo o que me cumpria dar-te, tu recebeste de mim: reinas sobre numerosos s�bditos, e eu te deixarei amplos dom�nios, que herdei de meu pai. Que ofensa te fiz eu, portanto? De que bem te privei? N�o quero que morras por mim, mas tamb�m n�o quero morrer se � tua a vez. Se te apraz contemplar a luz, pensas que o mesmo n�o se d� comigo? Bem sei que longo tempo, muito longo tempo mesmo, eu permanecerei sob a terra; o que me resta da vida terrena � pouco, mas � doce! Tu, que te debateste vergonhosamente contra a morte, tu vives, sim; transpuseste o passo fatal, mas a custa de tua esposa! E agora censuras minha covardia, tu, infame, suplantado em coragem por uma mulher, que se deixou morrer por ti, belo rapaz! Descobriste um meio de evitar a morte; caso possas persuadir a todas as mulheres que contigo se casem, de que consintam em morrer, sucessivamente, em teu lugar! E insultas os amigos que a isso se escusam, quando tu mesmo evidencias tua falta de coragem! Cala-te, pois! E sabe que, se tens amor � vida, os outros o t�m, igualmente! E se continuas a me ofender, ouvir�s de mim terr�veis e verdadeiros insultos!
O CORO
Basta de rec�procas afrontas! Cessa, � velho, a repreens�o que t�o ruidosamente lan�as sobre teu filho.
ADMETO
Podes falar, visto que tamb�m eu falei; mas se n�o queres ouvir a verdade, n�o devias ter procedido mal para comigo.
FERES
Maior mal eu faria, se viesse a morrer por ti.
ADMETO
Acreditas, ent�o, que vem a ser o mesmo, morrer na mocidade, ou na velhice?
FERES
Cada um de n�s tem uma vida somente; e n�o duas.
ADMETO
Pretendes, ent�o, viver mais do que J�piter?
FERES
E tu maldizes de teus pais, que nenhum mal te fizeram?
ADMETO
Compreendo que ambicionas uma longa vida.
FERES
E n�o est�s conduzindo � sepultura um cad�ver que ocupa o teu lugar?
ADMETO
Ela prova, homem covarde, ela prova a tua covardia.
FERES
Ao menos n�o te atreves a dizer que ela morreu para me poupar.
ADMETO
Ah! Tomara que um dia venhas a precisar de mim!
FERES
Casa-te com uma multid�o de esposas, para que haja mais gente disposta a morrer por ti!
ADMETO
Seria ainda maior a tua vergonha, visto que n�o queres morrer.
FERES
Oh! Esta luz divina me � querida, muito querida!
ADMETO
S�o sentimentos vis, indignos de um homem!
FERES
N�o gozar�s o prazer de conduzir o meu velho corpo � sepultura!
ADMETO
Mas tu h�s-de morrer um dia, e morrer�s desonrado!
FERES
Depois de morto, pouco me importa que falem mal de mim!
ADMETO
Oh! Mas como a velhice � desbriada!
FERES
Esta mulher n�o foi desbriada, n�o; mas insensata!
ADMETO
Retira-te! Deixa-me amortalhar este corpo!
FERES
Eu me retiro! Amortalha tua esposa, de quem foste o matador. Ter�s, por�m, que prestar contas aos parentes de tua mulher; Acasto, sem d�vida, n�o ser� um homem se n�o vingar em ti a morte de sua irm�.
ADMETO
Que tu vivas, � velho, tu e aquela que habita contigo! Vivereis, como mereceis, sem filhos, embora eu viva ainda. Sim, porque n�o mais permaneceremos sob o mesmo teto. Ah! Se eu pudesse anunciar, por arautos, que renunciei ao lar paterno, eu o faria! Vamos n�s, por�m, levar este corpo � pira funer�ria!
O CORO
Ai de ti! � v�tima de tua coragem! � tu, a melhor, e a mais generosa das esposas, adeus! Que os deuses subterr�neos te recebam com benevol�ncia! E se l�, no Hades, se concedem recompensas aos justos, possas tu participar delas, ao lado da esposa de Plut�o!
(Saem ADMETO e FERES)
Entra O SERVO
O SERVO
Tenho visto j�, na verdade, muitos h�spedes vindos de diversos pa�ses, na casa de Admeto, e a todos tenho servido as refei��es; mas palavra que nunca recebi h�spede mais brutal do que este! Apenas chegou, embora visse meu senhor em pranto, ele transp�s a soleira da casa! Em seguida, sabendo que nos aflige um grande desgosto, recebeu, sem modera��o, as aten��es hospitaleiras; e o que n�s demoramos em trazer, ele exige que lhe seja trazido, em voz �spera de comando. Depois, tomando nas m�os uma enorme ta�a, cheia, guarnecida de hera, bebeu, em largos sorvos, do vinho mais puro, at� que os vapores do �lcool lhe subissem � cabe�a; isso feito, p�s uma coroa de ramos de murta e aos berros entoou um canto grosseiro. Ouviu-se ent�o, uma dupla �ria; porque ele cantava sem dar nenhuma aten��o ao desgosto de Admeto, e n�s, os servos, ento�vamos uma elegia � mem�ria de nossa rainha, ocultando, por�m, nossas l�grimas ao rude visitante, porque assim expressamente nos ordenou Admeto. E assim estou eu servindo um banquete a um estranho, que mais parece um salteador, ou bandido, ao passo que nossa rainha vai sair para sempre do pal�cio sem que eu possa acompanh�-la, nem estender-lhe a m�o, chorando a perda de quem era uma boa m�e para todos n�s, os seus servidores, porque ela nos poupou muitos males, acalmando a c�lera de seu marido. N�o tenho, pois, o direito de detestar esse h�spede, que surge agora, precisamente quando sofremos tamanha afli��o?
Entra H�RCULES
H�RCULES
Ol�! Por que esse ar t�o grave e s�rio? Um servo nunca deve mostrar aos h�spedes uma cara de contrariedade: deve, sim, receb�-los sempre de maneira af�vel. Tu, por�m, vendo neste recinto um sincero amigo de teu senhor, tu o recebes com fisionomia triste, e sobrancelhas carregadas, preocupado por algum motivo estranho. Vem c�: quero ensinar-te a ser mais delicado. Sabes tu, por acaso, de que natureza s�o os seres humanos? Creio que ignoras; com efeito, como poderias saber tal coisa? Ouve, pois: todos os homens s�o condenados a morrer, e n�o h� um s� que possa assegurar um dia que ainda estar� vivo no dia imediato. O que depende da sorte nos � oculto; nada a tal respeito nos pode instruir, e nenhuma ci�ncia jamais revelar�. Portanto, convencido dessas verdades, que acabas de ouvir de mim, trata de gozar a alegria, de beber � vontade, de aproveitar a vida que passa; que fique o mais a cargo do Destino! Presta homenagem a V�nus, a deusa que maiores del�cias concede aos mortais. Que deusa generosa ela �! N�o cures do resto; segue meus conselhos, porque eu sei que s�o bons. Deixa essa melancolia, homem, e vem beber comigo! Transp�e esta porta, e coroa-te de flores! Estou certo de que o tilintar das ta�as afugentando-te a tristeza, h�-de conduzir a um ditoso porto. Visto que somos mortais, conv�m que nos conformemos � condi��o das coisas mortais. Com efeito, a vida para os homens austeros e tristes, n�o � a verdadeira vida, mas um supl�cio, e nada mais!
O SERVO
Eu sei! Mas o pesar que sinto n�o me anima a rir, nem a tomar parte em festins.
H�RCULES
Ouvi dizer que morreu uma mulher estrangeira; n�o te aflijas em demasia, visto que a gente da casa est� viva, e com sa�de!
O SERVO
Viva, como? Por acaso n�o sabes que desgra�a caiu sobre esta fam�lia?
H�RCULES
Ent�o o teu senhor ter-me-ia iludido!
O SERVO
� que ele respeita muito, — muito mesmo! — os deveres de cortesia para com seus h�spedes.
H�RCULES
Por acaso devia ele receber-me mal, por causa da morte de uma estranha?
O SERVO
Ah! Se ela pertencia, — e demais! — � fam�lia!
H�RCULES
Houve, ent�o, uma desgra�a que Admeto n�o me quis revelar?
O SERVO
S� feliz... A n�s, os da casa, � que cabe acompanhar o nosso chefe em sua dor.
H�RCULES
Pelo que dizes, n�o se trata de um luto de gente estranha...
O SERVO
Ah! N�o! Se tal acontecesse, eu n�o estaria triste quando tu te entregavas aos prazeres do festim.
H�RCULES
Oh! Com que ent�o me teriam assim magoado os que me receberam?
O SERVO
Com efeito, tua visita n�o foi oportuna; todos n�s estamos de luto: v� estes cabelos cortados, e estas roupas escuras.
H�RCULES
Mas... quem morreu? Um de seus filhos? Ou talvez seu pai?
O SERVO
Foi a esposa de Admeto que morreu, � estrangeiro.
H�RCULES
Que dizes tu? E apesar disso franquearam-me a hospitalidade?
O SERVO
Admeto n�o quis vedar-te, com essa not�cia, o ingresso em sua casa.
H�RCULES
Pobre Admeto! Que esposa tu perdeste!
O SERVO
Com ela, � como se todos n�s morr�ssemos!
H�RCULES
Eu bem suspeitei disso, ao v�-lo com os olhos cheios de l�grimas e a fronte privada de cabelos; mas ele destruiu minha suspeita declarando que ia dar sepultura a uma estrangeira. Bem a meu pesar, pois, entrei nesta casa, comi e bebi � mesa de um homem generoso a quem amargurava uma dor profunda. Distra�-me num festim, e pus sobre a cabe�a uma coroa de flores. Por que n�o me disseste que um golpe t�o doloroso caiu sobre esta casa? Onde � a sepultura? Por onde devo ir, a fim de encontr�-la?
O SERVO
� margem da estrada que nos conduz a Larissa ver�s um t�mulo de m�rmore, fora da cidade.
(Sai O SERVO)
H�RCULES
� meu cora��o, que tanto j� tens lutado! � minha alma! Mostremos hoje que filho a tirintiana Alcmena, filha de Electrion, deu a J�piter! Sim! Eu devo salvar da morte esta mulher que acaba de morrer! Urge restituir Alceste a esta fam�lia, e provar assim minha gratid�o para com Admeto. Irei ter com T�natos, o negro soberano das sombras! Esperarei que ele se aproxime da sepultura, onde vai sugar o sangue dos finados! E se, preparando-lhe uma cilada, puder atirar-me sobre ele e agarr�-lo com a cadeia de meus bra�os, n�o h� ningu�m que dali o arranque, mesmo maltratado como estiver, enquanto ele n�o me restituir esta mulher! Mas, se a presa me fugir, se ele n�o vier saciar-se de sangue, ah! — ent�o irei eu pr�prio aos Infernos, � sombria mans�o de Pros�rpina e de Plut�o, exigirei Alceste, e estou certo de que a trarei de volta � terra, e a entregarei ao amigo acolhedor que t�o bondosamente me recebeu em sua casa, n�o me repelindo, embora esmagado ao peso de tamanha desgra�a, e ocultando conscientemente o seu luto, em considera��o para comigo. Haver� na Tess�lia, haver� em toda a Gr�cia um mortal mais hospitaleiro? Nunca ele dir� que foi amigo de um ingrato, ele que se mostra t�o generoso!
(Sai H�RCULES)
Entra ADMETO
ADMETO
Ai de mim! Que triste regresso a meu lar! Como parece deserto este pal�cio! Ai de mim! Para onde irei? Que farei? Que hei-de dizer? Que devo calar? Oh! Se eu pudesse morrer tamb�m! Sim! Minha m�e trouxe-me ao mundo para sofrer! Como invejo a felicidade dos mortos; eu gostaria de habitar a sua triste regi�o. A luz do sol n�o mais me encanta a vista, nem me agrada pisar na terra, depois que o cruel T�natos me arrebatou um ente t�o querido, para d�-lo ao Hades!
O CORO
Adiante! Adiante! Entra em tua casa!
ADMETO
Ai de mim!
O CORO
Digna de l�stima � tua triste sorte!
ADMETO
Ai de mim!
O CORO
Bem sabemos qu�o pungente � tua dor!
ADMETO
Pobre de mim!
O CORO
Teu pranto de nada vale, para aquela que n�o mais vive!
ADMETO
Pobre de mim!
O CORO
Desgra�a atroz, que nunca mais ver�s o rosto de tua esposa estremecida!
ADMETO
Tu recordas precisamente o que mais me dilacera: n�o h� maior desgra�a para um homem, do que perder uma esposa fiel! Prouvera aos c�us que nunca eu tivesse trazido como esposa, a este pal�cio, a m�sera Alceste! Invejo a sorte dos que n�o t�m mulher, nem filhos... Possuem uma �nica alma, e sofrer por ela ser� um fardo suport�vel. Mas ver o sofrimento dos filhos, e ver devastado pela morte o leito nupcial, eis um espet�culo intoler�vel, quando se poderia ter vivido sem prole, e sem o matrim�nio!
O CORO
Feriu-te o destino, cruel e inexor�vel!
ADMETO
Pobre de mim!
O CORO
E tua dor ser� eterna...
ADMETO
Ai de mim!
O CORO
Seja, embora, um fardo bem dif�cil...
ADMETO
Ai de mim!
O CORO
Deves resignar-te; n�o �s tu o primeiro....
ADMETO
Ai de mim!
O CORO
N�o foste o primeiro a perder uma esposa.
ADMETO
Pobre de mim!
O CORO
V�rias s�o as desgra�as que ferem os mortais!
ADMETO
� luto perene! Saudade cruel de um ser querido, que j� n�o vive! Por que me impediram que me deixasse cair no t�mulo e descansar, de uma vez, ao lado de minha esposa t�o querida? Plut�o teria tido n�o uma s� alma, por�m duas, atravessando o rio infernal.
O CORO
Viveu outrora em minha fam�lia um homem, cujo filho �nico, digno de venera��o por suas virtudes, morreu. No entanto, ele suportou com resigna��o essa desgra�a, que o deixava sem o filho, embora fosse ele j� idoso, tendo a cabe�a branca pendida, como quem busca a sepultura[12].
ADMETO
� muralhas de meu pal�cio! Como poderei eu voltar a teu recinto? Como hei-de viver, depois de t�o rude mudan�a na minha vida? Oh! Que diferen�a! Outrora eu entrava nesta casa, iluminada por archotes vindos do P�lion, e ao som de hinos nupciais, conduzindo pela m�o minha esposa querida. Junto a n�s caminhava um jovial cortejo de amigos, celebrando a feliz uni�o de dois c�njuges de nobre estirpe. Agora, ao inv�s de alegria, ouvem-se l�gubres lamenta��es; em lugar dos v�us de alv�ssimo tecido, � o luto, com suas vestes negras, que me conduz � minha c�mara nupcial deserta!...
O CORO
Foste ferido, em plena felicidade, por este rude golpe do destino, quando ainda n�o conhecias o sofrimento; mas tu conservas a vida, ao passo que tua esposa jaz, morta, privada de tua ternura. Em verdade, nada de novo se v� em tudo isso... A morte j� tem apartado muitos homens de suas esposas...
ADMETO
Amigos, em meu parecer, bem melhor do que a minha foi a sorte de minha mulher, embora outros pensem diversamente. Doravante, ela est� isenta de todo o sofrimento; e libertou-se, gloriosamente, de muitas prova��es! Eu, por�m, que j� n�o devia viver, transpus o termo fatal, e arrastarei uma exist�ncia miser�vel. Eu bem o compreendo agora! Como terei �nimo de reentrar em minha casa? A quem vou falar? Quem me falar�? Onde, e como, obter aquelas doces conversa��es? Para onde devo ir? A solid�o me afugentar� daqui, quando eu vir vazio o leito da esposa, e o trono que ela ocupava, e a boa ordem do pal�cio descurada... quando meus filhos vierem, a meus p�s, lamentar a falta de sua m�e, e os servos a de sua senhora. Eis o que me espera no interior de minha casa: l� fora, a vista das esposas tessalianas, e das numerosas reuni�es femininas, ser� para mim um motivo de terror, pois n�o terei coragem de contemplar uma s� das companheiras de Alceste. E meus inimigos dir�o: “Vede este homem, que arrasta uma exist�ncia de ignom�nia, porque n�o teve �nimo para morrer! Em seu lugar deu a esposa, para livrar-se, covardemente, de Plut�o! E ele se diz “um homem”... Detesta pai e m�e, mas recusou-se a morrer!” Tal ser� a reputa��o que h�-de agravar o meu opr�brio e minha desgra�a. Que valor ter�, para mim, a vida, � meus amigos, com uma fama t�o ruim, e t�o adversa fortuna?
O CORO
Al�ou-me um dia a Musa, em suas asas, � regi�o celeste, e de l�, depois de observar todas as coisas que existem, nada vi mais poderoso do que a Necessidade! Nem as f�rmulas sagradas de Orfeu, inscritas nos est�lios da Tr�cia, nem os violentos rem�dios que Apolo ensinou aos filhos de Escul�pio, para que minorassem os sofrimentos dos mortais!
S� ela, entre as deusas, n�o tem altares, nem imagens, a que possamos levar nossos tributos: nem recebe v�timas em holocausto. � temerosa divindade! N�o sejas mais cruel para comigo, do que j� tens sido at� hoje! Tudo o que J�piter ordena, �s tu que executas sem demora; at� o ferro dos Cal�bios tu vergas e dominas; e nada conseguir� abrandar teu cora��o inflex�vel!
Tu, Admeto, a quem essa deusa potente oprime com sua for�a invenc�vel, tem coragem! N�o ser� pelos prantos e l�grimas que lograr�s trazer � vida os mortos que j� l� v�o sob a terra. Tamb�m os filhos dos deuses ir�o ter, um dia, � tenebrosa mans�o da morte! Alceste era querida por n�s, quando vivia; e ainda a veneramos, depois de morta; porque aquela a quem tomastes por esposa era, por certo, a mais nobre das mulheres. Que o t�mulo de tua esposa n�o se mostre igual a tantos outros; mas sim, que receba honras semelhantes �s que tributamos aos deuses, e preitos de justa venera��o dos viandantes. Que o peregrino exclame, sustando o seu caminhar: “Esta, que deu a vida pelo esposo, n�o deixar� de ser uma divindade benfazeja!” E assim Alceste ser� saudada!
Parece-nos, Admeto, que a� vem o filho de Alcmena; e j� se aproxima de tua casa.
Entra H�RCULES, acompanhado por uma mulher velada por um manto
H�RCULES
A um amigo leal, Admeto, devemos sempre falar com franqueza, nenhum ressentimento deixando oculto no cora��o. Eu, que, presente, vi que estavas desgostoso, supunha que, em qualquer hip�tese, saberias p�r a prova minha amizade. No entanto, n�o me quiseste dizer claramente que o corpo exposto era o de tua esposa; e assim fui induzido a aceitar a hospitalidade em teu pal�cio, crente de que se tratava do trespasse de uma estrangeira. Coroei-me de flores, e fiz liba��es aos deuses, em tua casa, quando todos se achavam sob o peso da mais pungente desola��o! Agora, sou eu que me queixo de ti; eu, sim, que protesto contra o modo pelo qual agiste para comigo! Mas n�o quero agravar teu desgosto; vou dizer-te apenas o motivo que me fez voltar aqui.
Toma sob tua prote��o esta mulher; guarda-a, eu te pe�o, at� que eu volte com os ferozes cavalos tr�cios, depois de vencer o rei dos Bist�nios. Se a sorte me for contr�ria (o que praza aos deuses que n�o me aconte�a, pois muito lhes tenho pedido um feliz regresso!) ela ser� tua, e habitar� tua casa. Foi ao cabo de tremendo combate que ela caiu em meu poder. Compareci a perigosos jogos p�blicos, nos quais se ofereceram pr�mios de alto valor aos vencedores; e eu trouxe esta mulher como recompensa por minha vit�ria. Para as pugnas mais simples, destinavam-se cavalos aos atletas vitoriosos; para os combates mais rudes, para os tremendos pugilatos, davam bois; e, como pr�mio de maior valia, esta mulher. Achando-me ali, por acaso, seria vergonhoso, para mim, esquivar-me � luta, e desprezar uma l�urea t�o gloriosa! Mas, como te disse, � mister que trates com todo o carinho esta mulher, porque a obtive, n�o por ast�cia, mas por um esfor�o ingente. Talvez um dia tu me agrade�as, por tudo o que fiz!
ADMETO
N�o foi por desprezo para contigo, nem por qualquer outro sentimento inamistoso, que te ocultei a sorte ingrata de minha esposa; mas seria, para mim, um desgosto, aumentando a dor sincera que eu j� sofria, se tu fosses coagido a procurar hospitalidade em outro solar. J� era bastante a m�goa que nos angustia. Mas, se julgas poss�vel isso, � H�rcules, eu te pe�o que confies esta mulher a um outro tess�lio que n�o tenha passado pelo golpe que me feriu; tens muitos amigos entre os habitantes desta cidade. N�o recordes minha desgra�a... Eu n�o poderia conter as l�grimas, vendo esta mulher em minha casa... N�o queiras agravar, com um novo desgosto, o que j� sinto; minha desgra�a j� basta! Onde poderia eu acolher esta criatura? Ela parece jovem, a julgar pelas vestes e ornatos que usa. Poderia ela viver entre os homens sendo casta como parece? N�o � f�cil, H�rcules, dominar os impulsos da mocidade: assim advirto, em teu interesse. Dar-lhe-ei aposento na c�mara de Alceste? Ah! N�o! Eu mereceria uma dupla censura: a do povo, que me acusar� de trair minha esposa, cedendo-lhe o leito a outra mulher, — e a da morta, que merece toda a minha saudade e toda a minha venera��o. E tu, � mulher, quem quer que tu sejas, como te assemelhas a minha querida Alceste pelo porte, pelo aspecto! H�rcules, pelos deuses! Leva-a para longe de mim! N�o queiras acabrunhar ainda mais a quem j� est� torturado pela sorte! Ao v�-la, creio ver minha esposa! Ela perturba meu cora��o e faz com que as l�grimas me rebentem dos olhos! Oh! Que infeliz sou eu! Vejo agora como ser� doloroso o meu luto!
O CORO
Eu n�o poderei congratular-me contigo, � rei, por teu destino, mas, seja quem for, deves receber a d�diva que os deuses te enviam.
H�RCULES
Pudesse eu, Admeto, trazer-te de novo a esposa, arrancando-a da regi�o do Hades para a luz do dia!
ADMETO
Bem sei que o farias, se pudesses; nenhuma d�vida tenho a tal respeito; mas... como realizarias esse intento? N�o � l�cito aos mortos voltar � luz da vida...
H�RCULES
J� te recomendei que n�o te excedas em teus queixumes. Suporta o mal com resigna��o!
ADMETO
� bem mais f�cil exortar os outros a que se resignem, do que enfrentar o mal que nos aflige.
H�RCULES
Que proveito ter�s tu, se te puseres a gemer pela vida a fora?
ADMETO
Sei que nada lucrarei; mas o pranto � um al�vio para o cora��o que se angustia.
H�RCULES
Amar a uma morta � uma fonte perene de l�grimas.
ADMETO
Sua perda me mata, muito mais do que seria poss�vel.
H�RCULES
Tu perdeste uma esposa exemplar; quem o negar�?
ADMETO
Precisamente por isso j� n�o sinto alegria no viver.
H�RCULES
O tempo abrandar� teu desgosto, que por ora ainda sentes t�o violento!
ADMETO
Ah! O tempo... tu dizes bem: o tempo significa a aproxima��o da morte!
H�RCULES
Uma mulher, e o desejo de novo himeneu h�o-de consolar-te um dia.
ADMETO
Cala-te! Que disseste, amigo? De ti eu n�o esperava tal coisa!
H�RCULES
E por que n�o? Com que ent�o n�o contrair�s novas n�pcias? Pretendes continuar na viuvez?
ADMETO
Mulher alguma partilhar� de meu amor.
H�RCULES
E acreditas que assim agradas aos manes de Alceste?
ADMETO
Onde quer que ela esteja, faz jus � minha imperec�vel gratid�o.
H�RCULES
Aprovo teus sentimentos, Admeto; mas haver� quem te acuse de loucura.
ADMETO
Jamais, � mulher, ter�s em mim um esposo.
H�RCULES
Eu te admiro e louvo, porque te mostras dedicado � mem�ria de tua esposa.
ADMETO
Que eu morra, se algum dia a trair, mesmo depois de morta!
H�RCULES
Est� bem! Agora podes receber em teu lar esta criatura!
ADMETO
Oh! N�o! Pelo deus J�piter, a quem deves a vida!
H�RCULES
Cometes grave erro, se a repelires.
ADMETO
Mas... se a aceitar, o remorso ferir-me-� o cora��o!
H�RCULES
Ora, aceita-a; vamos! Afirmo-te que esta d�diva � oportuna.
ADMETO
Prouvera aos deuses que nunca a houvesses tu recebido como pr�mio de teu valor!
H�RCULES
No entanto, tu mereceste, tamb�m, a vit�ria que obtive.
ADMETO
Dizes bem; mas conv�m que se retire essa mulher.
H�RCULES
Ela ir�, se convier que v�; mas primeiramente quero que me digas se ela deve ir.
ADMETO
Sim; assim � preciso; a menos que isto te desagrade...
H�RCULES
S� eu, realmente, sei a raz�o por que insisto desta maneira!
ADMETO
Em tais condi��es, eu cedo; mas fica sabendo que o que fazes, n�o me agrada.
H�RCULES
Um dia vir�, em que h�s-de bendizer a minha resolu��o. Por agora, obedece, e ver�s.
ADMETO
(Aos servos) Levai-a ao interior do pal�cio; visto que nos � for�oso receb�-la aqui.
H�RCULES
N�o! N�o confiarei esta mulher a teus servos!
ADMETO
Nesse caso, tu mesmo a conduzir�s, j� que assim o queres.
H�RCULES
S� em tuas m�os quero e devo entreg�-la!
ADMETO
N�o lhe tocarei no corpo; mas ela pode entrar.
H�RCULES
J� disse que s� a deixarei em tuas m�os, amigo!
ADMETO
H�rcules: tu me obrigas a assim agir; vou receb�-la, contra a minha vontade!
H�RCULES
Ent�o, estende a m�o, e aperta a desta desconhecida.
ADMETO
Eis aqui!... Estendo-lhe a m�o, como se estivesse prestes a ver a cabe�a da Medusa.
H�RCULES
J� a tens, contigo, pois?
ADMETO
Sim; tenho-a comigo.
H�RCULES
Pois ent�o fica certo de que a guardar�s contigo, e dir�s sempre que o filho de J�piter sabe ser um h�spede grato. (Retira o v�u que cobre a mulher) Contempla-a, agora! V� se n�o �, realmente, muito parecida com Alceste! Eis-te feliz, de novo, Admeto! Para longe, o luto e o desespero!
ADMETO
Deuses imortais! Que vejo! Que direi? � prod�gio inesperado! Ser� verdadeiramente Alceste, a quem eu vejo, ou algum deus zomba de mim concedendo-me uma alegria ilus�ria?
H�RCULES
N�o! � Alceste, tua esposa, que tens diante de ti!
ADMETO
Cuidado, H�rcules! N�o ser� um fantasma egresso das regi�es infernais?
H�RCULES
Admeto, teu h�spede nunca foi um invocador de almas![13]
ADMETO
Ent�o �, mesmo, minha esposa, aquela a quem eu j� havia dado sepultura?
H�RCULES
Sem d�vida! � ela pr�pria! E n�o me admira que tu hesites em acreditar na tua fortuna!
ADMETO
Poderei ent�o falar-lhe, como falava a minha esposa em vida?
H�RCULES
E por que n�o? Fala-lhe, homem! Tu readquiriste, na verdade, o tesouro por que tanto suspiravas!
ADMETO
� doce olhar de minha esposa amada! Sim, �s tu, na verdade! Contra toda a expectativa, eu te possuo de novo, eu, que supunha nunca mais te ver!
H�RCULES
Sim; ela � tua! E fa�o votos para que os deuses n�o invejem tamanha felicidade!
ADMETO
Nobre filho de J�piter, que a felicidade te acompanhe sempre! Que teu pai vele por ti! S� tu pudeste reerguer a minha vida, que a desgra�a derru�ra! Mas... como pudeste traz�-la do Hades � luz do dia?
H�RCULES
Lutando contra a mal�fica divindade que se apoderara de sua sorte.
ADMETO
Oh! Onde lutaste contra T�natos, o nume terr�fico da morte?
H�RCULES
Bem perto da sepultura, onde dela me apoderei, sustendo-a nos bra�os.
ADMETO
E por que raz�o Alceste, rediviva, permanece muda e im�vel?
H�RCULES
N�o te ser� poss�vel ouvir sua voz enquanto ela n�o for purificada de sua consagra��o �s divindades infernais, e s� ao romper do terceiro dia. Mas, faze entrar Alceste em tua casa; e conserva sempre, Admeto, o religioso respeito que tens pelas leis da hospitalidade. Adeus! Eu prossigo minha viagem, a fim de executar o trabalho que me foi imposto pelo filho de Est�nelo!
ADMETO
Consente em ser meu h�spede por mais alguns dias!
H�RCULES
Por agora � imposs�vel. Devo apressar-me.
ADMETO
S� feliz, H�rcules! Possas tu retornar mui breve a nosso lar! Que os cidad�os de Feres e todos os habitantes da Tess�lia celebrem este ditoso acontecimento por festas, e dan�as; que em todos os altares a chama do holocausto se erga, em meio de preces de gratid�o! Porque uma vida melhor se vai seguir a dias t�o funestos! Adeus, H�rculesl S� feliz!
O CORO
Os acontecimentos que o c�u nos proporciona manifestam-se sob as mais diversas formas; e muita coisa acontece, para al�m de nossos temores e suposi��es; muita vez o que se espera, nunca sucede; e o que nos assombra, realiza-se com a ajuda dos deuses. A volta feliz de Alceste � uma prova!
FIM
Notas
* — O professor Jo�o Baptista de Mello e Souza foi, por anos, professor de hist�ria no Col�gio Mello e Souza e marcou gera��es com seus ensinamentos. � de Afonso Arinos, em suas Mem�rias, este testemunho sobre a import�ncia que teve em sua forma��o as aulas por ele dadas: “A mat�ria que mais me encantava era a Hist�ria do Brasil, dada pelo mesmo (J.B. Mello e Souza).”; “Creio que toda a minha inclina��o posterior pelos estudos hist�ricos data desse fecundo aprendizado inicial.” (ap. Alberto Venancio Filho, A Historiografia Republicana: A contribui��o de Afonso Arinos, in Estudos Hist�ricos, Rio de Janeiro, vol. 3, n. 6, 1990, p.151-160.) [NE]
[1] — Alude Apolo ao pai, e � m�e de Admeto, que, em avan�ada idade, viviam ainda.
[2] — Esse her�i, como se sabe, � H�rcules; e a aventura referida constitui o 2º dos doze “trabalhos”. Euristeu, a quem H�rcules servia, manda-o � Tr�cia a fim de arrebatar os ferozes animais, que o cruel Diomedes alimentava com carne humana.
[3] — Era costume antigo cortar, pouco antes do holocausto, alguns fios de cabelo da v�tima, os quais eram lan�ados ao fogo como prim�cias do sacrif�cio. Na Electra, antes de ferir o animal, Egisto corta-lhe alguns p�los.
[4] — Alus�o ao rumor que faziam os gregos, batendo com as m�os acima da cabe�a, o que era sinal de dor veemente, ou desespero.
[5] — Naturalmente para consultar um or�culo — medida extrema que os gregos adotavam em casos tais.
[6] — Um dos t�tulos pelos quais era invocado o deus Apolo.
[7] — Racine aproveitou esta passagem na Ifig�nia, dando-lhe esta magn�fica vers�o:
“Je vois d�j� la rame, et la barque fatale!
J’entends le vieux nocher sur la rive infernale...
Impatient, il crie: “On t’attend ici-bas!
Tout est pr�t! Descends! Viens! Ne me retarde pas!”
[8] — O m�s Caineano (ou o “Mouniki�n”) corresponde a abril, no calend�rio romano.
[9] — Esta fala de Herc�les teria sugerido o famoso mon�logo de Hamlet.
[10] — Hor�cio inspirou-se nesta passagem de Eur�pedes ao escrever, em sua ode II, XIII: “Prometeu, e o pai de Pelops acham, nestas doces harmonias, o esquecimento tempor�rio de seus males; e o pr�prio Orion j� n�o pensa em perseguir o t�mido lince”.
[11] — Afigura-se muito confusa esta afirma��o de Admeto.
[12] — Supunha-se que esta passagem se referisse a P�rieles, mas os comentadores romanos provaram que tal n�o se poderia admitir, visto que P�rieles teve dois filhos, Xantipo e P�ralo. C�cero faz ver que se trata de Anax�goras que, j� idoso, ao receber a infausta not�cia da morte de seu filho �nico, respondeu: “Eu sabia que ele era mortal!...”
[13] — Eis um dos pontos �rduos na interpreta��o de Alceste. A palavra grega ψσχαγωγ�ς s� se poderia traduzir por psiquagogo, “aquele que dirige ou conduz as almas”, voc�bulo formado ad instar de pedagogo ou demagogo. A fala de H�rcules vem comprovar a antiguidade das pr�ticas que em todos os povos t�m havido, com o fim de conseguir o reaparecimento, entre os vivos, das almas que j� deixaram a exist�ncia terrena.
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