Folha de S.Paulo - Morte: Zé Keti morre no Rio - 15/11/1999
MORTE
Zé Keti morre no Riofree-lance para a Folha
O cantor e compositor José Flores de Jesus, o Zé Keti, 78, morreu
ontem de manhã, vítima de parada cardíaca, no hospital da Venerável Ordem Terceira da Penitência, na Tijuca (zona norte do Rio),
onde estava internado desde 25
de outubro.
Zé Keti se consagrou com a música "Máscara Negra", mas também é autor de sucessos como "A
Voz do Morro" e "Diz Que Fui
por Aí".
O grande momento de sua carreira foi o musical "Opinião", no
teatro Opinião, em Copacabana,
na década de 60. Ao lado de Nara
Leão e João do Valle, Zé Keti lançou grandes nomes do samba como Hermínio Bello de Carvalho e
Noca da Portela.
Nos últimos anos, com a saúde
debilitada, o compositor pouco
saía de casa, em Inhaúma, zona
norte do Rio. Hipertenso, com sinais de arteriosclerose, ele passava o dia vendo televisão.
"Ele só saía de casa ultimamente
para receber alguma homenagem", disse uma das filhas, Geisa,
36. Segundo ela, o pai ficava muito contente quando isso acontecia. "A saúde dele até melhorava."
A última vez que foi homenageado, no dia 20 de setembro, ele
e o compositor Guilherme de Brito foram as estrelas de uma roda
de samba organizada pelo clube
Lagoinha, em Santa Teresa (centro do Rio). No ano passado, ele
ganhou o Prêmio Shell de música.
Pai de cinco filhos, Zé Keti, morava com a filha Geisa. Depois de
passar dez anos em São Paulo, ele
voltou para o Rio por insistência
dos filhos. "Ele não podia mais
morar sozinho lá", disse Geisa.
Segundo a filha, ele ficou recentemente muito feliz ao saber que
será homenageado no próximo
Carnaval pela escola de samba
Boêmios de Inhaúma, do terceiro
grupo carioca.
A escola desfilará no ano que
vem com o enredo "Os Bambas
de Inhaúma" -uma referência a
ele e a Pixinguinha, outro ilustre
morador do bairro.
Segundo Geisa, o pai tinha "verdadeira adoração" pelos companheiros Carlos Cachaça, Clementina de Jesus, Pixinguinha e Ivone
Lara.
Muito abalado com a perda de
Carlos Cachaça, há dois meses, o
compositor vinha questionando a
morte. "Por que ela existe?", perguntava.
Cerca de 150 pessoas compareceram ao velório do compositor
na capela Santa de Cássia, no cemitério de Inhaúma (zona norte),
onde foi enterrado ontem, às
16h40. Durante o velório, o caixão
foi coberto com a bandeira azul e
branca da sua escola de samba, a
Portela.
Na cerimônia, parentes, amigos
e compositores da velha-guarda
da Portela cantaram emocionados sucessos do compositor.
Acompanharam o enterro o cineasta Nelson Pereira dos Santos
e os compositores Zé Renato,
Jards Macalé, Nelson Sargento,
Walter Alfaiate e Noca da Portela.
Zé Keti foi enterrado ao som de
sua composição "Voz do Morro".
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