A maior das capas
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"Secos & Molhados", que revelou Ney Matogrosso em 73, vence a enquete "qual a melhor capa de disco da música brasileira", promovida pela Ilustrada
Divulgação![]() |
LÚCIO RIBEIRO
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
A capa do álbum "Secos & Molhados", lançado em agosto de
1973, com as cabeças dos quatro
membros do grupo servidas à
mesa, é considerada a melhor da
história da música brasileira, segundo enquete realizada pela
Ilustrada com 149 personalidades
da música, fotógrafos, artistas
plásticos, jornalistas e outros.
Essa capa do primeiro disco da
ex-banda de Ney Matogrosso obteve 23 votos e superou "Todos os
Olhos" (também de 73), de Tom
Zé, que conseguiu 14 votos e colocou o olho que era um ânus na segunda posição. A terceira mais citada é a capa de "Índia", em que o
ventre e o baixo ventre de Gal
Costa aparecem só de tanga microscópica, no mesmo ano de 73,
com 11 votos.
"Tropicália ou Panis et Circencis", disco-manifesto abrigado
em capa-manifesto de criação coletiva do grupo tropicalista em 68,
é a quarta mais votada: dez votos.
Com nove citações, chega a capa
do disco "Transa" (72), de Caetano Veloso -na versão original
em LP era um álbum-objeto
montável que, desdobrado, virava
um triângulo tridimensional.
A lista prossegue, colocando
ainda entre os vencedores o conceitual "disco da mosca" de Walter Franco ("Ou Não", mais um
de 73), com oito votos, "Milagre
dos Peixes" (de, adivinhe, 73), de
Milton Nascimento, com seis, e,
empatados com quatro votos,
"Acabou Chorare" (Novos Baianos, 72), "Fa-tal" (Gal, 71), "Minas" (Milton, 75) e "Secos & Molhados" (74).
Entre os artistas com mais capas
citadas pelos votantes, os Secos &
Molhados e as capas de seus dois
primeiros LPs também ficaram
em primeiro. Seguem-nos, embolados, Gal Costa (sete títulos) e
Milton Nascimento e Caetano Veloso (ambos seis títulos cada).
Os convidados a votar na enquete pensaram no termo "melhor" de forma livre, como a mais
bonita, impactante, importante,
significativa e/ou afetiva capa da
música brasileira, escolhendo discos discos desde Pixinguinha até
o mangue beat de Nação Zumbi e
Mundo Livre S/A, por exemplo.
Nesta página e nas E 4 e E 5, lembram-se histórias e bastidores da
produção das cinco melhores capas e se investiga o mundo paralelo à música que se pode descobrir
admirando as capas de seus LPs.
A enquete é inspirada nos livros
"100 Best Album Covers", de
Thorgerson & Powell, lançado
nos EUA em 1999, e "Q's 100 Best
Record Covers", que acaba de sair
na Inglaterra e é organizado pela
revista "Q" (leia nesta página).
Sobre a capa brasileira "campeã", segundo lembram os ex-integrantes dos Secos & Molhados
Ney Matogrosso e João Ricardo, a
idéia foi inspirada em trabalho do
fotógrafo Antônio Carlos Rodrigues, que havia feito uma foto
com sua mulher "decapitada" e
servida numa mesa com sangue.
Amigo de João Ricardo e então
fotógrafo do jornal "Última Hora", Rodrigues foi convidado a desenvolver a idéia no disco de estréia do grupo que já começava a
sacudir o Brasil com visual ultra-andrógino e sucessos como "O
Vira" e "Sangue Latino". Propôs
juntar alimentos às quatro cabeças, para sugerir uma seção de
"secos & molhados" de armazém.
Hoje, Ney dá ao ato um teor político/subversivo: "Estávamos
oferecendo nossas cabeças. As caras maquiadas eram para não nos
reconhecerem. Era agressiva. Nós
éramos agressivos. Coloque-se no
meu papel, num país machista,
em plena ditadura. Era agressivo
por tática. Senão seriam comigo".
À parte tantas idéias, a censura
proibiu faixas devido às letras,
mas não a capa, que passou ilesa
para a história.
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