Copa do Mundo 1978 - Argentina
Argentinos são campeões jogando em casa, em meio a uma Ditadura Militar, em Mundial que ainda hoje gera suspeitas de influências políticas nos resultados
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A Argentina muito tentou até conseguir convencer a Fifa de que poderia ser sede
de uma Copa. Outros três países sul-americanos já haviam tido o privilégio: o
Uruguai em 30, o Brasil em 50 e o Chile em 62. O problema é que a escolha
ocorreu em meio ao período ditatorial argentino, uma decisão delicada do ponto
de vista diplomático.
Apenas cinco cidades receberam jogos do Mundial, sendo que Buenos Aires teve
duas sedes. Três deles foram construídos para a Copa: os de Córdoba, Mendoza e
Mar del Plata.
Foi a última Copa com apenas 16 seleções. Dois campeões mundiais, Uruguai e
Inglaterra, ficaram fora. A França cogitou boicotar a competição como protesto
contra a morte de freiras francesas, supostamente a mando da ditadura
argentina, mas acabou desistindo.
Guachito, mascote da Copa (Foto: Reprodução)
Um menino vestido com a camisa argentina e usando adereços típicos do campo (um
chapéu e uma faca), chamado Gauchito, foi o mascote da Copa de 1978.
A Argentina aproveitou como poucos o fator local e foi campeã do mundo pela
primeira vez em 1978 - feito que repetiria oito anos depois, no México. A
campanha não foi exatamente brilhante. Na primeira fase, os hermanos tiveram
duas vitórias (2 a 1 na Hungria e 2 a 1 na França) e uma derrota (1 a 0 para a
Itália). Na segunda, só avançaram no saldo de gols, depois de golear o Peru por
6 a 0 - indo a campo sabendo da quantidade de gols de que precisavam para
avançar, em jogo que ainda hoje gera suspeitas. A final contra a Holanda também
foi um sufoco, com empate por 1 a 1 no tempo normal, seguido de dois gols na
prorrogação.
Mario Kempes: decisivo, campeão, artilheiro e craque em 1978 (Foto: Getty Images)
O título da Argentina foi consequência direta dos gols de Mario Kempes. Ele foi
o artilheiro do Mundial. Deixou suas marca seis vezes, todos a partir da
segunda fase: dois contra a Polônia (vitória de 2 a 0), outros dois contra o
Peru (goleada de 6 a 0) e mais dois na final (triunfo de 3 a 1 sobre a
Holanda).
Foi o último Mundial sem a eleição de um Bola de Ouro. Mas o ótimo desempenho e
os gols acumulados na reta final da Copa também podem fazer Kempes ser
considerado o craque do Mundial.
A primeira fase do Brasil, dirigido por Cláudio Coutinho, foi não mais que regular, com empate por 1 a 1 com a
Suécia (gol de Reinaldo), igualdade por 0 a 0 com a Espanha e vitória de 1 a 0
sobre a Áustria (gol de Roberto Dinamite). Na segunda etapa do torneio, o
começo foi bom, com vitória de 3 a 0 sobre o Peru (dois gols de Dirceu e um de
Zico). Depois, a Seleção chegou a dominar a Argentina, mandante do torneio, mas
empatou por 0 a 0. Encerrou sua participação com triunfo de 3 a 1 sobre a Polônia
(gols de Nelinho e Dinamite, duas vezes). Não foi à final por causa do saldo de
gols, favorável à Argentina.
Na disputa do terceiro lugar, bateu a Itália por 2 a 1, gols de Nelinho e Dirceu, e terminou a competição invicta, mas com críticas à convocação, que deixou de fora jogadores como Falcão e Junior.
Seleção brasileira na Copa do Mundo de 1978: eliminada no saldo de gols (Foto: Agência Estado)
Esperava-se mais da Alemanha, campeã da Copa anterior. A seleção germânica
passou raspando pela primeira fase, em segundo no Grupo 2, com uma vitória (6 a
0 no México) e dois empates (0 a 0 com Tunísia e mesmo placar contra a
Polônia). Depois, morreu na segunda etapa do torneio, ao empatar com Itália (0
a 0) e Holanda (2 a 2) e perder para a Áustria (3 a 2).
A Argentina precisava vencer o Peru por quatro gols de diferença para ir à
final da Copa. De uma Copa na Argentina. Em uma Argentina sustentada no
patriotismo de um regime militar. E pior: caso não conseguisse, seria o Brasil
quem avançaria. Resultado: 6 a 0, vaga na decisão e posterior título para os
donos da casa. O jogo ainda hoje gera suspeitas. A atuação da equipe peruana
foi muito abaixo do aceitável para uma seleção que se classificara em primeiro
lugar em sua chave. Teria ocorrido um acordo financeiro? Ou um pacto entre os
dois países? Ou mero futebol? Seja como for, Kempes (duas vezes), Tarantini,
Luque (duas vezes) e Houseman fizeram os gols da classificação argentina.
E o goleiro peruano Quiroga teve atuação muito contestada
Kempes comemora gol contra o Peru, em jogo que ainda hoje gera suspeitas (Foto: Agência AP )
Mesmo sem Cruyff e Neeskens, a talentosa geração da Holanda nos anos 70 chegou à sua segunda final seguida de Mundial
em 1978. E, de novo, quase ganhou. A missão parecia impossível: vencer a
Argentina na casa dela. Mas a equipe laranja encarou bem o adversário. Saiu
perdendo, com gol de Kempes no primeiro tempo, mas buscou o empate na etapa
final e ainda acertou o travessão sul-americano, com o craque Rensenbrick, no último
minuto do período normal. Na prorrogação, porém, a Argentina se sobressaiu.
Kempes, em bela jogada individual, fez o segundo. E participou da jogada do
terceiro, anotado por Bertoni.