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Dualib renuncia à presidência do Corinthians

  • ️Fri Sep 21 2007

21/09/2007 - 00:00 / Atualizado em 03/03/2012 - 03:44

SÃO PAULO - Alberto Dualib não é mais presidente do Corinthians. O dirigente, que responde à processo criminal por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entregou nesta sexta-feira sua carta de renúncia ao presidente do Conselho Deliberativo do clube, Carlos Senger. O vice-presidente Nesi Cury também decidiu se afastar em definitivo do Parque São Jorge. Agora presidente interino do clube, Senger tem 30 dias para convocar novas eleições para o cumprimento do restante do mandato, de cerca de um ano. Com a decisão de Dualib, foi cancelada a reunião do Conselho Deliberativo que votaria o impeachment do dirigente.

Dualib e o vice-presidente Nesi Cury não estavam à frente do Corinthians desde o afastamento temporário aprovado pelo Conselho no início de agosto. O presidente corintiano só tomou a decisão de renunciar porque o Conselho enviaria nesta sexta um pedido de afastamento em definitivo dos cartolas .

Investigado pela Justiça, Dualib começou a sua derrocada no Corinthians com o início da parceria entre a MSI e o clube em dezembro de 2004. O negócio sempre foi questionado pela oposição, que suspeitava que o dinheiro do iraniano Kia Joorabchian era fruto de lavagem de dinheiro.

Em depoimento à Justiça de São Paulo, Dualib disse que não sabia que a origem do dinheiro da parceria era ilícita, mas a divulgação de grampos da Polícia Federal fruto de um relatório de 72 páginas da Operação Perestroika revelou que Dualib, Kia e o empresário Renato Duprat tentaram intercedor junto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para facilitar a entrada do russo Boris Berezovski, um dos investidores da MSI, no país. O magnata é procurado pela Interpol e tem o seu pedido de prisão expedido em diversos países da Europa e no Brasil por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A investigação ainda apontou que os jogadores Ricardinho e Carlos Alberto, ex-atletas do Corinthians, recebiam parte de seus salários de fora do país por conta de impostos. Dualib e Curi chegaram a oferecer dinheiro à Receita Federal para não autuar o clube. Outro grampo da PF ainda revelou que Kia falou em lavagem de dinheiro com Duprat

No dia 4 de setembro, um funcionário do Corinthians foi detido pela polícia por tentar fugir com um computador do clube . A prisão aconteceu durante uma operação no Parque São Jorge para o cumprimento de mandados de busca e apreensão. Na ocasião, foram apreendidos documentos e notas fiscais na sede do Parque São Jorge e também no escritório de Dualib e na sede da empresa N.B.L. Serviços Contábeis. As notas fiscais são consideradas frias pelo Ministério Público e pela Polícia Civil.

As descobertas da Operação Perestroika de que o dinheiro da parceria entre MSI e Corinthians vinha de lavagem de dinheiro e envolveria Kia, Berezovski, dirigentes do clube e até jogadores de futebol fizeram levantar a hipótese de cassação do título brasileiro da equipe em 2005. Mas o presidente do Conselho de Orientação Fiscal do clube Antônio Roque Citadini defendeu o título e disse que ele é legítimo A polêmica parceria com a MSI

Iniciada em dezembro de 2004, a parceria entre Corinthians e MSI sempre foi questionada pela oposição do clube, que duvidava da origem do dinheiro que o iraniano Kia estava investindo no Parque São Jorge. Havia suspeitas de que o dinheiro viria da máfia russa e que Kia tinha uma parceria com o magnata russo Boris Berezovsky, que vive entre a França e a Inglaterra e teve a prisão pedida pelo Ministério Público brasileiro no dia 12 de julho através da Interpol, que investigava suas conexões com a MSI, que é suspeita de lavagem de dinheiro.

A denúncia que baseou o pedido de prisão indica que Berezovsky utilizou o Corinthians para lavar dinheiro obtido de forma ilícita no exterior. O magnata, um dos mais ricos do mundo com uma fortuna estimada em US$ 10 bilhões, é procurado em seu país por crimes contra o sistema financeiro e corrupção.

Apesar das promessas de investimento por dez anos e até a possibilidade de construção de um estádio para o clube, o dinheiro da MSI começou a minguar já em 2006 após a venda do argentino Tevez, que ajudara a equipe a ser campeã brasileira no ano anterior.

A insatisfação com os rumos que o Corinthians tomava se juntou ao acúmulo de uma dívida de R$ 53 milhões e às investigações da polícia que colocou os principais dirigentes do clube como réus em processo na Justiça por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Diante deste quadro, o Conselho Deliberativo do Corinthians se reuniu no dia 24 de julho e aprovou por unanimidade o fim da parceria com a MSI.

No dia 8 de agosto, foi a vez do Conselho se reunir novamente para afastar o presidente Dualib e seu vice, Nesi Curi, que respondem a processo na Justiça. No final de agosto, Dualib negou em depoimento ao Tribunal Regional Federal de São Paulo que soubesse que o dinheiro da MSI era ilícito. Do contrário, não teria assinado a parceria.

Dualib e Curi, além do empresário Renato Duprat, do dirigente Paulo Angioni e do advogado Alexandre Verri, são acusados de crime de lavagem de dinheiro. O russo Boris Berezovsky e os iranianos Kia Joorabchian e Nojan Bedroud, que tiveram a prisão preventiva decretada, respondem por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.