Cynipidae – Wikipédia, a enciclopédia livre
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Classificação científica | ||||||||||||||
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Cynipidae é uma família de vespas galhadoras, pertencente à ordem dos insetos himenópteros, subordem Apocrita, e superfamília Cynipoidea[1]. São vulgarmente conhecidas por vespas-das-galhas[2] dado que induzem nas plantas a formação de galhas em virtude do seu desenvolvimento larval[3]. São vespas de pequenas dimensões (1 a 8 mm), de coloração variando entre o caramelo e o preto, com asas relativamente longas em relação ao corpo; são observadas em áreas verdes, principalmente em jardins, pousadas sobre a folhagem.
Como todos os membros da subordem Apocrita, as vespas-das-galhas possuem uma forma de corpo distintiva, em que aconteceu uma forte constrição de parte do abdômen gerando uma cintura de vespa. Em todos Apocrita, o primeiro tergo abdominal, denominado propódeo, está conjugado com o retante do tórax (formando o mesossoma), enquanto o segundo segmento abdominal forma uma espécie de haste (chamada do pecíolo) que sustenta o gáster: o abdómen funcional nas vespas apócritas, começando com o terceiro segmento abdominal propriamente dito. Assim, juntos o pecíolo e o gáster formam o metassoma, enquanto que o tórax e o propódeo constituem juntos o mesossoma.
A precisa identificação dos Cynipidae pode ser complicada pelas extensas semelhanças com outras pequenas vespas da superfamília Cynipoidea,[4] particularmente com aquelas poucas espécies de Figitidae que são também encontradas envolvidas nas estruturas de galhas[5] (particularmente Parnipinae). Em suma, os Cynipidae possuem como combinação única as seguintes características: (i) larvas de último ínstar com dois dentes proeminentes fortes nas mandíbulas bem esclerotizadas (com a exceção de algumas espécies em que o segundo dente reduziu-se, restando apenas um evidente)[6][7]; (ii) ovos com revestimento mais espesso e menos flexível que das outras famílias aparentadas[8]; (iii) adultos com o mesoescudo opaco e o terceiro segmento abdominal bem maior do que os demais (nos Figitidae semelhantes, este costuma ser o quarto segmento); (iv) adultos com o abdômen ovalado e brilhoso. As antenas são filiformes com 12 a 16 segmentos. Em algumas variedades, o dorso do mesossoma possui bandas longitudinais. As asas têm uma estrutura típica simples. O ovipositor da fêmea muitas vezes pode ser visto projectando-se da ponta do metassoma.
A identificação exata de espécies é bastante dificultada pela falta de recursos como chaves dicotômicas, principalmente em Cynipini e Synergini.
As fêmeas de vespas galhadoras Cynipidae botam seus ovos dentro dos tecidos vegetais jovens ainda indiferenciados, de maneira que fatores liberados alteram o desenvolvimento da região deste tecido, induzindo a formação de uma galha. Os mecanismos que levam a estas alterações teciduais ainda não estão bem conhecidos, pois ainda não são bem conhecidos os fatores fisiológicos que as induzem. No entanto, acredita-se que envolva tanto fatores iniciadores injetados pelas vespas fêmeas durante a postura (como secreções ovarianas do cálice, e das glândulas do aparato de veneno), bem como outros fatores produzidos pelas larvas em desenvolvimento e suas atividades[9].
As galhas induzidas pela postura e larvas de Cynipidae são entendidas como as mais complexas dentre as galhas induzidas por artrópodes: além de poderem se desenvolver em quase qualquer tecido vegetal, estas galhas podem conter complexos de até 100 câmaras larvais. Acredita-se que tal complexidade tenha sido atingida evolutivamente por pressão de inimigos naturais tais como predadores e outras vespas parasitas[10]. Cada galha é formada por duas partes: a região externa, que varia bastante em morfologia e deformidades, e uma região interna, contendo tecidos voltados para a nutrição da larva que alberga. Uma capa dura de esclerênquima (que nutre a galha com nutrientes) reveste cada uma destas câmaras, que possui em seu revestimento interior uma larga camada de células vegetais nutritivas, que é explorada como alimento pela larva da vespa galhadora durante seu desenvolvimento.
As espécies parasitoides teriam surgido a partir de ancestrais indutores de galhas que eventualmente tenham perdido esta capacidade[11]. Nestas espécies, as fêmeas botam seus ovos dentro das galhas iniciais feitas por outra vespa-das-galhas. Deve-se notar que a larva da vespa galhadora parasitoide não mata nem se alimenta diretamente da larva da espécie hospedeira, mas por vezes a vespa adulta que a mata com seu ovipositor, ou pode eventualmente morrer por inanição por ser impedida de nutrir-se pela larva parasitoide. Há registros de larvas de vespas-das-galhas parasitoides que controem sua própria câmara de tecido parenquimatoso, de forma que acaba isolando a larva hospedeira, sem danificá-la diretamente.
Existem espécies que são específicas na exploração de hospedeiros, bem como outras que atacam diversos hospedeiros aparentados[12][13].
Não são consideradas como graves ameaças econômicas na agricultura, uma vez que não ocasionam desfolha e o único dano visível restringe-se às galhas. Ademais, as vespas concentram os ataques a determinados indivíduos, que acabam por apresentar muitas galhas, estes sim sendo mais atingidos e tendo seu desenvolvimento prejudicado. As galhas funcionam analogamente a um tumor de animais, de forma que sequestram nutrientes e água, além de afetar a funcionalidade dos tecidos atingidos. Um dos insetos melhor conhecidos é Dryocosmus kuriphilus, que afeta o desenvolvimento de castanheiras,[14] podendo ocasionando ocasionar na morte dos pés mais atingidos; esta espécie pode tornar-se uma praga importante desta cultura. Outra espécie que adquiriu status nocivo foi Neuroterus saltatorius, considerada uma praga de árvores ornamentais Quercus alba, por indiretamente ocasionar descoloração e perda de vistosidade das plantas. Curiosamente, os imaturos da vespa conseguem saltar das galhas desta árvore quando ameaçados[15].
Estão descritas cerca de 1300 espécies nesta família, com cerca de 360 espécies na Europa e cerca de 800 espécies na América do Norte[16]. Esta diversidade das regiões temperadas holárticas [5]é primariamente representada por espécies da tribo Aylacini[3]. No caso da América do Sul[17], as tribos mais representadas são Cynipini e Synergini atacando roseiras; acredita-se possível que estejam presentes alguns representantes da tribo Diplolepidini, mas que ainda não foram registrados. No Brasil, não há registros de espécimes desta família, o que pode dar-se por uma lacuna de conhecimento; por exemplo, espera-se que ao menos alguma espécie de Escathocerus sp. venha a ser eventualmente coletada, dado que sua planta hospedeira típica Acacia caven (Fabácea) encontra-se bem espalhada pelo sul do país, e pelo fato de que diferentes espécies deste gênero estão presentes e bem conhecidas dos países vizinhos[18].
Algumas espécies holárticas são listadas abaixo.
- Andricus burgundus
- Andricus callidoma
- Andricus coriarius
- Andricus curvator
- Andricus dentimitratus
- Andricus fidelensis
- Andricus foecundatrix
- Andricus gallaecus
- Andricus gallaeurnaeformis
- Andricus gemmeus
- Andricus glandulae
- Andricus grossulariae
- Andricus hispanicus
- Andricus inflator
- Andricus kollari
- Andricus lignicolus
- Andricus luisieri
- Andricus luteicornis
- Andricus niger
- Andricus nobrei
- Andricus pictus
- Andricus pseudoinflator
- Andricus quercuscorticis
- Andricus quercusradicis
- Andricus quercusramuli
- Andricus quercustozae
- Andricus rhyzomae
- Andricus sieboldi
- Andricus solitarius
- Andricus stefanii
- Andricus subterranea
- Andricus tavaresi
Referências
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