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Experimento Ganzfeld – Wikipédia, a enciclopédia livre

  • ️Tue Jul 11 2017

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Cobaia num experimento Ganzfeld objetivando averiguar a PES conhecida como telepatia

O Experimento Ganzfeld (do alemão "campo inteiro") é uma técnica usada no campo da parapsicologia para testar a percepção extrassensorial (PES) em algum indivíduo. Nela é usada uma estimulação sensorial homogênea e despadronizada para produzir o chamado efeito ganzfeld,[1] um efeito semelhante ao de privação sensorial (nesta há redução ou a remoção deliberada de estímulos de um ou mais dos sentidos como visão, etc.). O termo Ganzfeld pode ser utilizado tanto para nomear o ambiente onde o experimento se realiza quanto para o próprio experimento.

O efeito ganzfeld tem sido utilizado em muitos estudos de neurociência, além da parapsicologia. A privação de estímulos sensoriais padronizados é para propiciar as impressões geradas internamente no indivíduo, algumas das quais poderiam ter origem extrassensorial.[2] A técnica foi idealizada por Wolfgang Metzger, em 1930, como parte de sua investigação sobre a teoria gestalt.[3]

Parapsicólogos como Dean Radin e Daryl Bem dizem que experimentos ganzfeld apresentaram resultados que se desviam da aleatoriedade em um grau significativo, e que esses resultados apresentam, até o momento, algumas das mais fortes evidências quantificáveis ​​para a existência da telepatia.[4] Todavia, críticos como Susan Blackmore e Ray Hyman alertaram que os resultados não são conclusivos e consistentemente indistinguíveis da hipótese nula.[5]

O astrônomo Carl Sagan foi outro cético que chamou a atenção da comunidade científica para a importância dos testes ganzfeld.[6]

O prêmio Nobel de Física, Brian Josephson, também é um defensor da Parapsicologia, selecionando o ganzfeld como entre os melhores experimentos do campo[7], tendo publicado uma carta na revista Nature onde divulga a criação de sua página sobre parapsicologia.[8]

Em 2010, a 8ª meta-análise da base de dados ganzfeld foi publicada, com resultados positivos e significativos.[9]

Um artigo de 2016 publicado na PloS One examinou Práticas de Pesquisa Questionáveis (PPQs) ​​nos experimentos ganzfeld e concluiu que ainda que as PPQs ocorressem, os resultados ainda seriam significativos.[10]

Há discórdia na comunidade científica sobre a eficácia dos testes Ganzfeld. Enquanto algumas pesquisas sugerem resultados estatisticamente significativos para participantes selecionados,[11] ainda não se conseguiu demonstrar consistentemente a eficiência do experimento para participantes não selecionados.[12] Críticas a respeito do experimento geralmente giram em torno de erros metodológicos e de interpretação dos dados, como inadequações no ambiente de experimentação,[13][14] falhas na aplicação da aleatoriedade durante os testes[15] e a falaciosa assunção de que desvios ao esperado sejam, necessariamente, evidenciação de poderes psíquicos.[16]

De acordo com o professor de psicologia Scott O. Lilienfeld e seus colegas, dizer que a técnica Ganzfeld é confiável é uma afirmação altamente disputada. Eles concluíram que a PES não foi demonstrada com sucesso nos experimentos realizados em mais de 150 anos, e isso é desencorajante.[17]

Um dos maiores problemas apontados nos testes Ganzfeld é o vazamento sensorial (sensory leakage), quando a pessoa submetida ao experimento consegue receber determinada informação de forma natural ou convencional, puramente através de seus sentidos, em vez de recebê-la por meio de algum poder extrassensorial. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o participante ouve certo som que não deveria ser capaz de ouvir por causa de um isolamento acústico mal feito ou quando é possível enxergar algo que não deveria ser possível ver devido a alguma reflexão em um objeto presenta na sala onde o experimento está sendo realizado. Segundo vários críticos do experimento, isso compromete a confiabilidade dos resultados.[13][14][18][19][20]

Em 1985, o psicólogo e autor britânico C. E. M. Hansel apontou fraquezas nos experimentos e concluiu que a evidência para a percepção extrassensorial continuava tão ínfima quanto cem anos antes.[20]

Milton e Wiseman desenvolveram, em 1999, uma metanálise dos experimentos Ganzfeld de modo independente e não encontraram evidência para o suposto "efeito psíquico". Os resultados obtidos a partir de 30 experimentos não mostraram efeito maior do que mero acaso.[21]

Em 2003, o professor de neurologia e escritor científico Terence Hines afirmou que as supostas evidências para a PES obtidas com os testes Ganzfeld desaparecem à medida que o controle científico dos experimentos se torna mais rígido. Segundo Hines, não havia "forma clara de obter resultados demonstrando qualquer fenômeno psíquico de modo confiável" e a conclusão mais sensata seria a de que tal efeito não existia e nunca teria existido.[22]

Em 2007, o professor de psicologia Ray Hyman criticou a postura dos parapsicólogos de interpretar peculiaridades nos resultados dos testes como efeitos diretos de supostas habilidades psíquicas. Para ele, isso constitui uma falácia e não há método independente que consiga indicar a presença ou ausência dos poderes psíquicos.[18]

Em 2010, Hyman voltou a criticar o Ganzfeld após analisar a metanálise de Storm et al., que apontava certa significância estatística nos resultados obtidos em 483 testes de um total de 1.498 (32,2%). Hyman escreveu que os experimentos não foram independentemente replicados e falharam na tentativa de produzir evidência para a psi.[23]

A metanálise de Storm et al. voltaria a ser criticada em 2013. Em uma avaliação crítica, Rouder et al. afirmaram que ela não revelava evidências para a psi, nenhum mecanismo plausível e ainda omitia falhas de replicação.[24]

O autor estadunidense Brian Dunning revisou as falhas dos estudos Ganzfeld em 2013 e chegou à conclusão de que não só a técnica havia falhado como evidência para a psi como o interesse pela prática havia decaído.[25]

Em 2016, um artigo concluiu que práticas de pesquisa questionáveis inflavam resultados positivos de metanálises dos experimentos Ganzfeld.[10]

Referências

  1. Radin 1997, p. 70–80
  2. «Parapsychological Association website, Glossary of Key Words Frequently Used in Parapsychology». Consultado em 6 de dezembro de 2012
  3. Metzger, W (1930). «Optische Untersuchungen am Ganzfeld: II. Zur Phanomenologie des homogenen Ganzfelds». Psychologische Forschung (13): 6–29
  4. Radin 1997
  5. Hyman, Ray (março 1996). «The evidence for psychic functioning: Claims vs. reality». The Skeptical Inquirer. 20 (2): 24–26. Consultado em 6 de dezembro de 2012
  6. Sagan, Carl (2006). O mundo assombrado pelos demônios. São Paulo: Companhia das Letras. 343 páginas. No momento em que escrevo, acho que três alegações no campo da percepção extra-sensorial (ESP) merecem estudo sério: (1) que os seres humanos conseguem (mal) influir nos geradores de números aleatórios em computadores usando apenas o pensamento; (2) que as pessoas sob privação sensorial branda conseguem receber pensamentos ou imagens que foram nelas “projetados”; e (3) que as crianças pequenas às vezes relatam detalhes de uma vida anterior que se revelam precisos ao serem verificados, e que não poderiam ser conhecidos exceto pela reencarnação. Não apresento essas afirmações por achar provável que sejam válidas (não acho), mas como exemplos de afirmações que poderiam ser verdade. Elas têm, pelo menos, um fundamento experimental, embora ainda dúbio. Claro, eu posso estar errado.
  7. http://www.tcm.phy.cam.ac.uk/~bdj10/psi.html
  8. http://www.tcm.phy.cam.ac.uk/~bdj10/psi/martian.html
  9. Storm, L.; Tressoldi, P. E., & Di Risio, L. (2010). «Meta-analysis of free-response studies, 1992–2008: Assessing the noise reduction model in parapsychology.». Psychological Bulletin: 471– 485. doi:10.1037/a0019457
  10. a b Bierman, D. J.; Spottiswoode, J. P., & Bijl, A. (2016). «Testing for questionable research practices in a meta-analysis: An example from experimental parapsychology.». PloS one, 11(5), e0153049. We conclude that the very significant probability cited by the Ganzfeld metaanalysis is likely inflated by QRPs, though results are still significant (p = 0.003) with QRPs.
    • Schlitz, M. J., & Honorton, C. (1992). Ganzfeld psi performance within an artistically gifted population. Journal of the American Society for Psychical Research, Vol. 86, Number 2, pp. 83-98.
    • Morris, R., Cunningham, S., McAlpine, S., & Taylor, R. (1993). Toward replication and extension of autoganzfeld results. Proceedings of Presented Papers: The Parapsychological Association 36th Annual Convention, 177–191.
    • Morris, R. L., Dalton, K., Delanoy, D., & Watt, C. (1995). Comparison of the sender/no sender condition in the ganzfeld. In Proceedings of the 38th Annual Parapsychological Association Convention (Vol. 244).
    • Dalton, K, (1997). Exploring the links: Creativity and psi in the ganzfeld. Proceedings of Presented Papers: The Parapsychological Association 40th Annual Convention, 119-134.
    • Morris, R. L., Summers, J., & Yim, S. (2003). Evidence of anomalous information transfer with a creative population in ganzfeld stimulation. Proceedings of the 46th Annual Convention of the Parapsychological Association, pp. 116–131.
  11. a b Wiseman, R., Smith, M. and Kornbrot, D. (1996). Exploring possible sender-to-experimenter acoustic leakage in the PRL autoganzfeld experiments. Journal of Parapsychology, 60. pp. 97–128.
  12. a b Marks, David; Kammann, Richard. (2000). The Psychology of the Psychic. Prometheus Books. pp. 97–106. ISBN 1-57392-798-8
  13. Hyman, Ray (1994). «Anomaly or Artifact? Comments on Bem and Honorton». Psychological Bulletin. 115 (1): 19–24. doi:10.1037/0033-2909.115.1.19
  14. Carroll, Robert Todd (2005). «The Skeptic's Dictionary: Psi Assumption». Consultado em 23 de junho de 2006
  15. Lilienfeld, Scott O; Lynn, Steven Jay; Ruscio, John; Beyerstein, Barry L. (2009). Myth #3 Extrasensory Perception (ESP) Is a Well Established Scientific Phenomenon. In 50 Great Myths of Popular Psychology: Shattering Widespread Misconceptions About Human Behavior. Wiley-Blackwell. ISBN 978-1405131124
  16. a b Ray Hyman. Evaluating Parapsychological Claims in Robert J. Sternberg, Henry L. Roediger, Diane F. Halpern. (2007). Critical Thinking in Psychology. Cambridge University Press. pp. 216–31. ISBN 978-0521608343
  17. Humphrey, Nicholas. (1996). Soul Searching: Human Nature and Supernatural Belief. Vintage. p. 136. ISBN 978-0099273417 "Richard Wiseman, a friend and former colleague of Honorton, has subsequently reanalysed the raw data trial by trial and shown that all the positive results can be attributed to those trials in which one or other of these sources of ‘sensory leakage’ was at least a possibility. In fact, in the relatively few trials (100 in all) where such leakage of information would not have been possible the receivers did no better than chance (26 per cent correct)."
  18. a b Hansel, C. E. M. The Search for a Demonstration of ESP in Kurtz, Paul. (1985). A Skeptic's Handbook of Parapsychology. Prometheus Books. pp. 97–127
  19. Milton, Wiseman; Wiseman, R (1999). «Does Psi Exist? Lack of Replication of an Anomalous Process of Information Transfer». Psychological Bulletin. 125 (4): 387–91. PMID 10414223. doi:10.1037/0033-2909.125.4.387
  20. Hines, Terence. (2003). Pseudoscience and the Paranormal. Prometheus Books. pp. 137–38. ISBN 978-1573929790
  21. Hyman R. (2010). «Meta-analysis that conceals more than it reveals: Comment on Storm et al. (2010).». Psychological Bulletin. 136: 486–90. doi:10.1037/a0019676
  22. Rouder J. N., Morey R. D., Province J. M. (2013). «A Bayes factor meta-analysis of recent extrasensory perception experiments: Comment on Storm, Tressoldi, and Di Risio (2010)». Psychological Bulletin. 139: 241–47. doi:10.1037/a0029008
  23. Podcast Skeptoid número 348. Ganzfeld Experiments. Acesso em 07/11/2017.