Folha de S.Paulo - O último fenômeno: Filme relega acidente para narrar sucesso do Mamonas - 10/07/2005
O ÚLTIMO FENÔMENO
Dirigido por Maurício Eça, longa deve estrear em 2006
Filme relega acidente para narrar sucesso do MamonasDA REPORTAGEM LOCAL
Com apenas dois discos (o segundo, ao vivo) e um DVD (em
parceria com a MTV) no mercado, os Mamonas Assassinas terão
sua meteórica carreira exposta
num longa previsto para estrear
no segundo semestre de 2006.
O filme será produzido pela Tatu Filmes, de Cláudio Kahn ("Feliz Ano Velho", "O Judeu"). A direção será de Maurício Eça, responsável, por exemplo, pelo videoclipe de "Diário de um Detento", dos Racionais MC's.
O acidente que matou os integrantes da banda passará quase
despercebido, segundo Kahn. "A
idéia é fazer um musical divertido, alegre, sem entrar muito no
episódio da morte. Haverá uma
menção ao acidente, mas será um
filme sobre o sucesso deles."
O longa terá como ponto de
partida a biografia "Blá Blá Blá"
(ed. LP&M; atualmente esgotado), de Eduardo Bueno. Mas dará
espaço para a ficção. "Já conversei
com o Eduardo, ele participará da
concepção do roteiro. O filme não
será feito apenas sobre o livro. Terá pontos ficcionais, não será um
documentário", afirma Kahn, que
comprou os direitos de imagem
dos familiares dos músicos.
"Faremos um filme humano,
mais do que biográfico", diz Eça.
"É um filme difícil, pois não era
uma banda feita de conflitos."
Orçado em R$ 5,5 milhões, o filme, ainda sem título, será co-produzido por uma emissora de televisão -há negociações com Globo e SBT. Parte do elenco será escolhida por meio de um concurso
a ser feito num programa da TV.
De 50 mil a 50 mil por dia
O estrondoso sucesso dos Mamonas Assassinas foi tão fulminante quanto inesperado. Ninguém botava muita fá neles antes
de assinarem contrato com a
EMI-Odeon. Nem seus familiares.
"Foi um choque [quando mostraram as primeiras letras]. Achávamos meio esquisito, que a censura não iria permitir", conta Tatsuo Hinoto, 40, irmão de Bento.
"No começo ficamos apreensivos, pois eles foram criticados por
muita gente", lembra Juliano Sales Barbosa, 65, pai de Júlio. "Um
dia ele veio com o CD e pôs para
tocar. Minha mulher falou: "O que
é isso? Não vai vender nunca". Estávamos acostumados com outras letras, mais sérias."
Rick Bonadio e a EMI-Odeon
apostavam no grupo, mas nem
tanto. Achavam que o disco iria
vender pouco mais de 50 mil cópias. Em dezembro de 1995, "Mamonas Assassinas" era comprado
por 50 mil pessoas por dia...
"O sucesso se deve a alguns
pontos: primeiro, a forma desencanada das letras, era uma linguagem que o povo estava acostumado. Além disso, a banda tocava de
verdade, e o carisma do Dinho
completava a fórmula. Não haverá grupo igual", afirma Bonadio.
"Eles se vinculam a uma tradição
macunaímica do deboche, da
mordacidade. O Dinho era um
cara que rimava "Van Damme"
com "andaime'", diz Bueno.
A paixão dos adolescentes pelos
Mamonas Assassinas era impressionante. Segundo dados do Ibope de 1995 e começo de 1996,
quando o grupo aparecia em algum programa de TV, a audiência
desse programa triplicava. Em fevereiro de 96, foram destaque da
capa da "Billboard", em reportagem sobre as inéditas vendagens
do disco de estréia.
"Normalmente, às terças-feiras
eles tiravam folga. Os fãs sabiam
disso, e um monte de gente chegava de madrugada e ficava na frente de casa, esperando eles saírem",
conta Francisco José de Oliveira,
65, pai de Samuel e Sérgio.
A Guarulhos natal, que possui
ruas batizadas com o nome de
seus famosos filhos, acompanhou
apenas um show dos Mamonas
Assassinas, em janeiro de 96, visto
por mais de 18 mil pessoas. "Um
juiz não queria deixar as crianças
entrarem, mas tanta gente protestou que ele liberou depois", diz
Ana Paula Rasec, irmã de Júlio.
Os familiares dos músicos detêm os direitos autorais das canções do grupo. Em 3 de março de
96, dia seguinte ao acidente, os
Mamonas iriam a Portugal, para a
primeira turnê internacional.
(THIAGO NEY)
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